APARECIDA e a rosa, a nossa!
- Lilis | Linhas Livres
- 26 de abr. de 2019
- 3 min de leitura
Por Isabela Dantas
Foto Arquivo Pessoal
O relógio despertou - a não, faltam alguns minutos ainda - voltei a cochilar; acordei assustada com a impressão de que estava atrasada, e estava mesmo. Levantei num pulo só, tomei banho rapidamente, fui para cozinha, um pão e um leite já era o suficiente. Saindo de casa, notei que faltava algo, meu notebook, livros e anotações pendentes para o trabalho - meu Deus, que cabeça de vento! Corri para dentro de casa, comecei a procurar, correr e procurar. Quando encontrei, pensei: que alívio! Reparei que quando os tinha puxado, algo havia caído no chão. Era um foto, um retrato de toda a minha família no aniversário da vovó.

Caramba que foto antiga, quando olhei me bateu uma saudade, mas estava sem tempo para recordar, afinal não é a foto que paga meus boletos e eu já estava mais do que atrasada para o serviço. Larguei a fotografia na mesa e fui correndo para o ponto de ônibus. Durante o trajeto percebi que a lembrança daquela imagem tinha mexido comigo. Cheguei à conclusão de que a ter derrubado foi a única maneira que me fez reviver aquele momento, com aquelas pessoas, com a minha avó.
Dona Cida era amor da cabeça aos pés. De pele morena, bastante bronzeada, a sua cor me lembrava café, aquele que ela fazia toda tarde esperando pela família que sempre aparecia em sua casa. Não era muito alta, mas também nem muito baixa, uma altura perfeita eu poderia dizer, perfeita para um abraço encaixado, gostoso e aconchegante. Me recordo que quando a abraçava, meus pés saiam do chão. Seu cabelo não era longo, batia na medida do pescoço mas quando preso ficava elegante. Cheia de lindos traços, o mais bonito era seu sorriso, e que sorriso!
Lembro que ela cuidava do jardim e dava uma atenção especial para as rosas. Para ela, aquele local era paz, cheio de flores coloridas que ao longo das estações iam mudando de cor, para nós, crianças levadas e teimosas, mais conhecidas como netos, aquele espaço era uma floresta, um bosque encantado, muitas vezes foi até o sítio da Dona Benta (descrito por Monteiro Lobato), mas neste caso era da Dona Cida, né?!
Ela tinha uma mania que demorou para eu entender. Toda noite antes de dormir, ela pegava um livro. Ele era grosso, de capa dura e parecia ter uns anjos na capa e contracapa, com letras grandes e douradas estava escrito “Bíblia Sagrada”. Eu reparava muito e era curiosa, achava engraçado ela abrir o livro, ler algumas palavras, dar uma risadinha de canto, fechar os olhos e falar sozinha. Já havia perguntado várias vezes para o papai se a vó estava louca. Meu pai, bravo, respondia: “Claro que não menina, de onde tá tirando isso?”. Não me contive, fui e perguntei a vovó, e ela me respondeu dizendo: “Sabe fia, tem um senhor lá em cima que cuida de todo mundo, ele é nosso paizão. Se toda noite você fechar os olhos e pedir algo com muito amor, ele vai te atender”.
Hoje eu sei quem Ele é e sei que cuida muito bem dela, porque eu peço todo dia!
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Isabela Dantas
Estudante de jornalismo, apaixonada por cachorros, livros, sorrisos e boas conversas. Carrego comigo a curiosidade de conhecer o diferente e não me habituar com aquilo que a gente chama de normal. Comigo não tem tempo ruim, para tudo existe solução e cada dia é um novo recomeço. Estranho é não me ver sorrindo. (Leia mais aqui!) Foto Pâmela Ramos.
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