AQUELA meia-noite!
- Lilis | Linhas Livres
- 20 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Por Natalia Gómez Targa
Foto Arquivo Pessoal

Quando o Júlio nasceu, há 3 anos, eu e o pai dele estávamos preparados para exigir que a maternidade deixasse ele ficar integralmente no nosso quarto. Sabíamos que a proximidade com a mãe é favorável à amamentação e ao bem-estar do bebê. Estávamos firmes, prontos para lutar por nossos direitos. Ninguém tiraria o nosso bebê de perto.
Depois do parto, que aconteceu exatamente à meia-noite do dia 20 de março, parecia que um caminhão tinha passado por cima de mim.
Cansada.
Exausta.
Não conseguia nem me mexer direito. Veio a enfermeira para buscar a criança e o pai logo interferiu: "queremos que ele fique aqui com a gente". Meu marido estava perfeito, cumprindo o nosso combinado. Mas depois de um silêncio, eu precisei falar.
"Deixa ela levar ele um pouquinho. Eu estou acabada." E lá se foi o bebê para o berçário.
Alívio.
Eu precisava que as enfermeiras me limpassem um pouco para eu poder fechar os olhos em paz. Precisava muito descansar.
Eu não fazia ideia mas, naquela hora, eu vivia a minha primeira experiência de maternidade real. A primeira contradição. A primeira vez que eu mudei de ideia.Tinha dado de cara com os meus limites humanos, físicos. Não importava a teoria.
Importava a realidade.
Fomos levados para um quarto provisório e, algumas horas depois, escutamos o barulho do carrinho de bebê se aproximando. Meu coração acelerou, meu mundo inteiro parou.
Naquela hora eu estava pronta para receber.
O meu filho. O Júlio.
Entre lágrimas de um jeito que eu nunca tinha experimentado, recebi meu bebê nos braços como se fosse a hora do nascimento. Com ele acomodado no meu colo, apoiado no braço esquerdo, dormimos colados pela primeira vez.
Foi sublime. E eu conheci, naquele momento, o maior amor que existe.
Preenchida. Aliviada. Acompanhada.
Três anos parece muito tempo. Por um lado é, porque tanta coisa mudou. Hoje o mundo ficou interessante pra ele, e vice-versa. Ele se limpa dos meus beijos e aguenta ficar várias horas sem mim.
Eu aprendi todo tipo de coisa com ele. Aprendi que eu mudo de ideia. Que eu não sei sempre o que eu estou fazendo. Que é tudo um grande aprendizado. Assim como no dia do parto, tem hora que dói, tem hora que sangra. Tem hora que é sublime.
Eu aprendo a respirar fundo. Aprendo a ficar mais presente. Às vezes eu quero fugir, mas é de mentira. Eu não iria muito longe sem ele.
Três anos, hoje. Os três anos que mais transformaram a minha vida, e mesmo sem conseguir compreender totalmente o seu significado, eu sinto intensamente o que todo ser humano sonha em sentir.
Eu sinto o amor na sua forma bruta. Sem negociação, sem porém. Amor.
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Natalia Gómez Targa
É uma escritora que nasceu gostando das palavras e exerceu essa paixão de diferentes formas. Foi jornalista de economia por 14 anos, se especializou em jornalismo literário, teve vários blogues e hoje produz conteúdo para produtos digitais. Livre de rótulos, escreve aqui por puro prazer de escrever e pela alegria de deixar brilhar, pelas palavras, a sua luz interior. Paulistana, tem 34 anos e vive em Maringá (PR) com a sua família desde 2015. (Leia mais aqui!) Foto de Michele Moraes.
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