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CASA DE AVÓ, cantinho da neta!

  • Foto do escritor: Lilis | Linhas Livres
    Lilis | Linhas Livres
  • 5 de abr. de 2018
  • 5 min de leitura

Atualizado: 19 de set. de 2018


Por Wanderlúcia Garcia

Fotos Arquivo pessoal


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Dona Kica em frente sua casa, na Vila Gabriel, em Sorocaba (SP)

É domingo de manhã, os pássaros cantam anunciando a chegada de um novo dia, o sol brilha no céu. Ouço a TV ligada e minha avó cantando um hino de Nossa Senhora, está passando a missa de Aparecida (SP). No sofá, está sentada uma senhora de cabelos branquinhos, curtos e lisos, de olhos azuis, chamada Maria Joana Rossi Cassimiro; os amigos a chamam de dona Nica, mas eu a chamo carinhosamente de avó Kica.


Sento-me ao seu lado e fico apreciando a sua companhia. Cantamos, oramos e conversamos. Gosto muito de ficar em cima do encosto do sofá, atrás da minha avó, e ficar penteando seus cabelos. Ela é uma pessoa muito batalhadora, quando era jovem trabalhou na roça, em plantação de cana, já casada lavava roupas para fora e vendia Yakult nas ruas dos bairros próximos a sua casa, na Vila Gabriel, em Sorocaba (SP).


Inclusive, ela foi a primeira mulher a vender Yakult nas ruas da cidade, tudo para ajudar no orçamento da casa, já que meu avô Osvaldo Cassimiro, ganhava pouco. Apesar da vida simples, sua casa para mim é uma fortaleza. A frente da casa é cercada por uma grade branca de dois metros de altura, o piso da frente é composto de caquinhos na maioria vermelhos, e com alguns amarelos e pretos, todos espalhados.

As paredes azul-claro da entrada contam ainda com três xaxins grandes e bonitos. A sala é grande, com piso de tacos, tem dois sofás, duas poltronas, uma estante e uma mesa de centro. Na frente da sala, está o quarto dos meus avós, no meio da casa fica a cozinha, com piso vermelho, e minha avó o encera com frequência. Logo em seguida, está o quarto do meu tio-avô Roque Rossi, irmão da minha avó, ele é solteiro e não tem filhos, do outro lado fica o banheiro e a lavanderia, depois tem uma escada que, descendo, tenho todo quintal para correr e brincar.


Há canteiros nas laterais com verduras, um varal, o chão é revestido de caquinhos vermelhos com alguns amarelos e pretos, como os da entrada e em baixo da casa fica o porão.


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Wanderlúcia, ainda pequena, brincando na casa da avó Kica

Essas são apenas algumas lembranças das que tenho ali, naquela casa, naquela época, porque são muitas. Quantas brincadeiras, quantas aventuras, que casa deliciosa de se estar.


Até os meus 3 anos de idade morei na casa dos meus avós paternos e fui praticamente criada pela minha avó, pois minha mãe Isabel Dulce Garcia Cassimiro, que é contadora, e meu pai Benedito Donizete Cassimiro, que é técnico de manutenção, ambos aposentados, trabalhavam o dia todo e eu ficava a seus cuidados. Foram tempos muito bons para mim, ela deixava-me livre para brincar, correr, e eu brincava com outras crianças da rua, como a Mara, Ricardo, Tânia, Júlie e Preto – este último já falecido.


Amizades que conservo até hoje. Mas que ela, mesmo assim, mostrava que tinha todo cuidado e amor por mim. Meus pais compraram um terreno na rua debaixo e construíram a nossa casa. O terreno dava de fundos com a casa dos meus avós, então quando eu queria ir até a casa deles, eu pulava o muro, já que minha mãe não quis fazer um portão para passagem.


E como eu pulei esse muro! Era o dia todo pra lá e pra cá, algumas vezes até me machuquei fazendo tal façanha, principalmente quando eu tinha de pular rapidamente, pois meu pai estava atrás de mim, querendo me pegar para aplicar alguma punição, devido à estripulia. Nessas horas, eu corria para casa da minha avó para trancar-me no banheiro e só saía de lá quando ele se acalmava.

A casa da minha avó era o meu porto seguro. Sua casa era sempre muito limpa, ela era muito caprichosa e dedicada, gostava muito de cozinhar e sua comida era ótima. Cheguei a cozinhar com ela algumas vezes, lembro-me de fazermos pão recheado com goiabada, foi o melhor pão que comi na vida. De tarde sempre comíamos bolacha molhada no café e à noite sempre tinha sopa, a que eu mais gostava das quais ela fazia é a sopa de feijão.


Quando eu tinha 12 anos minha avó adoeceu. Foi descoberto um carcinoma no útero e ela teve de operar, passando por um longo tratamento. Foram dias muito difíceis, ela gritava de dor e nada podíamos fazer. Eu passava o dia em sua companhia, e a cada dia eu via aquela mulher forte e guerreira indo embora. Não me esqueço do seu olhar para mim enquanto eu dava comida em sua boca, durante o último Natal que passamos juntas. Nós duas sabíamos que a despedida estava próxima.


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Dona Kica, Wanderlúcia, seu gato Chico e seu avó Oswaldo

Pouco tempo depois, em uma manhã quente de verão, o céu se fechou, o dia entristeceu e minha querida avó me deixou. Descansou, eu sei. Não foi fácil conviver com sua ausência, ainda não é. Meus dias já não eram mais divertidos e eu não tinha mais meu porto seguro. E atualmente a casa já não existe mais, meus pais a compraram, derrubaram e construíram outra casa no local, uma continuação da casa deles, já que o terreno era nos fundos.


Hoje, quando quero recordar da minha infância feliz fecho meus olhos e lembro-me de todos os detalhes, da minha avó e do quão foi bom viver ao seu lado. Nenhum lugar se faz especial sozinho, o que faz do lugar ser especial é quem está nele. O que faz a felicidade são as pessoas e o que elas nos representam. A casa de minha avó ainda é tudo para mim, quando quero e fecho os olhos.


Vila Gabriel

A história da Vila Gabriel, em Sorocaba, mistura-se com a da vizinha Vila Progresso, que como o próprio nome diz, era a localidade emergente da cidade, uma extensão oriunda do Centro. A vila tem cerca de 10 ruas, sendo a principal delas a João Gabriel Mendes – possivelmente a que deu origem ao nome do bairro -, e cerca de 110 casas. Fica entre a Vila Santana, Maria do Carmo e Vila Progresso, abrangendo parte das avenidas Arthur Bernardes e Ubirajara. Seus principais pontos de referência são um pequeno trecho da Praça Olinda de Castro Affonso, conhecida como Praça do Truco, e a Igreja da Congregação Cristã no Brasil (CCB). Informações: www.sorocaba.sp.gov.br.


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Wanderlúcia Garcia


Mãe, esposa, filha, amiga, pessoa feliz e amorosa, que adora estar em família e amigos. Para combater a injustiça escolheu o Direito como formação. Pisciana sonhadora, ama a natureza e tudo que Deus criou. Tem o papel e a caneta como amigos, pelos quais pode desabafar e criar. (Leia mais aqui!) Foto San Paiva | Fotopoesia

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