MEMÓRIAS que compõem a vida!
- Lilis | Linhas Livres
- 27 de mar. de 2019
- 4 min de leitura
Por Vera Lúcia Soares
Imagens Divulgação

Uma viagem para a alma...
Viajar é uma das coisas que eu mais gosto, mesmo sendo uma viagem para um lugar próximo. Vim de Santo Estevão (BA) para São Paulo quando tinha 16 anos e morei por 11 em Atibaia (SP) – onde resido atualmente, depois de passagem por Sorocaba (SP), onde morei quando era casada. E das viagens que fiz, a que mais me marcou depois da minha vinda para as terras paulistas foi a que fiz com o meu ex-marido, acreditem, lá para a Bahia, quando fomos visitar nossas famílias. Pense numa viagem divertida! Fomos de carro, foram quase 2 mil quilômetros. E curti cada momento, cada paisagem, com direito a muitos erros na rota e alguns desvios que nos deixaram perdidos. Mas também conversamos, brigamos e rimos muito! E passamos medo também, pois foi uma aventura do começo ao fim. A viagem durou quase o dobro do tempo previsto. Neste período, os parentes ligavam constantemente, preocupados! E com razão, nossa jornada teve direito a carro batido e uma parada na delegacia. Mas o importante é que chegamos ao nosso destino inteiros e em paz. A volta já foi tranquila, vieram mais passageiros e eu acabei ficando em Atibaia, onde fui madrinha de casamento de uma amiga muito querida. Gosto de lembrar desse tour porque eu e ele tivemos tempo para pensar na vida. Essa reflexão foi tão profunda e produtiva que amorteceu os perrengues que passamos. Sem contar que a paisagem até lá é belíssima, e rever a família, depois de longo tempo, não tem preço. Saudade é a palavra.
Saudade...
Falando em saudade, sinto do meu tempo de criança, quando aos domingos à tarde minha mãe arrumava a prole para irmos à casa de nossas tias Nena, Alice e Preta. Na verdade elas eram primas de minha mãe, mas as adotamos como tias. Todas às vezes era a mesma coisa, o mesmo roteiro. Primeiro passávamos na casa de tia Nena, a pessoa mais divertida e palhaça, daquelas que a gente pensa “fala sério!?” Ela sempre tinha algo gostoso para nos servir, principalmente um creme com calda de ameixas – que aqui é conhecido como manjar. Depois, assistíamos ao programa do Sílvio Santos, no SBT. Na sequência íamos na casa de tia Alice, que era a tia mais séria e exagerada da família. Ela era viúva e tinha sempre muita comida para as visitas. Servia sempre um café bem farto, com bolachinhas de goma, bolo de massa puba e queijo Palmira, daqueles de cuia. Lá assistíamos Os Trapalhões, que passava na Rede Globo. Por último passávamos na casa de tia Preta, também viúva, com três filhos adolescentes. Mas o ritual continuava, mais uma vez com café com pão, manteiga da boa e rosquinhas de nata. Tudo acompanhado de muita prosa e a revista eletrônica do Fantástico, fazendo fundo! Eram tempos difíceis, mas muito bons porque tínhamos respeito, contato, conversa, reuniões e saudades. Elas já não estão aqui, só a minha mãe. Mas o tempo, ah, o tempo!
Aceitação...
Até pouco tempo atrás, confesso, eu tinha vergonha do meu corpo, por ele ser cheio de manchas e cicatrizes, além de não ter os traços que a maioria das pessoas acham perfeitos, aquele padrão de beleza importo pela indústria da beleza e mídia. Mas com o tempo, depois de terapia e amadurecimento, vi que tudo isso não passava de besteira, felizmente. Hoje gosto de me olhar no espelho e vejo que em meus 45 anos estou “muito bem, obrigada!”. Tenho uma pele e cor lindas, sobrancelhas bem definidas, ombros estreitos, peitos fartos, narigão e um bundão (bunda de tanajura, como diziam). Ainda não acostumei com o meu peso, pois engordei num período da minha vida. Isso é evidenciado pelas canelas finas e os pés chatos. Sem contar os meus dentes, que são tortos. Mas são meus! Os cabelos estavam sempre presos porque são enrolados e volumosos. Por causa disso, meus irmãos me chamam de "Leão". Mas de uns tempos pra cá tomei coragem e os assumi assim, como são. Assumi também a minha identidade, tanto a ascendência negra, quanto esse turbilhão de pensamentos e emoções que tenho dentro de mim. Agora até uso faixas coloridas na cabeça e me exponho mais. E olha, tenho recebo muitos elogios. Que me encorajam a prosseguir. Vamos lá, então!
Mudanças!
Sempre fui uma pessoa realista e, por causa disso, tenho muito medo de sonhar. Também confesso que não faço mais planos, infelizmente, com medo do que pode acontecer e mudar. Tenho minhas opiniões e costumo brigar muito por elas. Sou fiel em minhas escolhas e opiniões, sou radical com relação às mudanças. Essa postura talvez seja uma defesa, de alguém que já aceitou muito as coisas e descobriu que pode existir. Então sei que é sempre preciso mudar e deixar de ter medo para realizar. Por essa razão, a esperança tem feito morada no meu coração, sinto que um dia as coisas vão melhorar e mudar. Pois veja, mais uma vez estou passando por essa transformação em minha vida. Estou voltando ao início, em um novo ponto de partida, uma nova chance de recomeçar de onde eu me perdi. Me separei, fiquei um tempo em Sorocaba (para onde fui morar, quando casada), e agora estou de volta à Atibaia – para onde vim, quando saí da Bahia -, recomeçando a vida e, desta vez, com excelente companhia. A minha.
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Vera Lúcia Soares
Curiosa por natureza, adoro reunir os amigos. Mas gosto muito de viajar também, além de dançar, ouvir música e apreciar as artes. A leitura sempre me acompanhou e o medo de me expressar também, estar aqui é um desafio. Mas como sou comunicativa e gosto de estar conectada com o mundo, acho que a aventura será inesquecível. Espero que para você, leitor, também!
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