MINHA INFÂNCIA com vovó!
- Lilis | Linhas Livres
- 5 de abr. de 2019
- 3 min de leitura
Por Cleide Aguiar
Fotos Arquivo Pessoal
Minha avó era uma italiana lindíssima. Alta e de olhos azuis, mas tão mais azuis que parecia que eram de vidro. Os cabelos eram longos e a pele rosada. Nascida em Taquarituba (SP), Maria Justina, era filha de fazendeiros e aos 18 anos conheceu meu avô, Antônio Pedro do Espírito Santo. Ele não era aceito pelos meus bisavós, mas como o amor sempre prevalece, casaram-se e tiveram oito filhos, quatro casais.

Dois dos meninos eram gêmeos, Joel Batista e João Batista. Meu tio João adquiriu a paralisia infantil com apenas 4 anos de idade. A doença deixou sequelas, mas nada impediu a família de ser feliz. Minha avó não parava quieta, tinha uma energia invejável. Acordava de manhã para tirar leite das vacas, pegava as bacias enormes de roupas de toda a família e ia para a mina de pedras lavá-las.
Voltava para o almoço e cozinhava para os filhos e netos. A comida era deliciosa, feita com banha de porco no fogão a lenha. À tarde fazia queijos e pães. Ia na roça buscar batatas, mandiocas e muitas frutas do pomar. Tínhamos muitas vacas, porcos, cabritos ovelhas, galinhas, cães e gatos, patos e gansos. A casa da minha avó era um verdadeiro paraíso. Só se comprava sal, e grosso.

Havia muitas festas na fazenda dos meus avós. Principalmente religiosas! De São João, São Pedro, São Paulo, São Roque, Nossa Senhora Aparecida. Nas festas tinha muita comida. Nós, os netos, tínhamos quartos só pra gente fazer bagunça. Nós estudamos na fazenda mesmo, uma escola rural. Nas segundas-feiras meu vovô ia buscar as professoras numa charrete toda linda, parecia uma carruagem de princesa, era tido “um sonho”, como dizíamos.
Na verdade isso acontecia porque as professoras ficavam a semana toda na casa de meus avós, a fim de lecionar para nós. Dormiam e comiam lá, só se despediam no final de semana, quando voltavam para casa. Era muita fartura! Tinha muita comida como doces, pães, broas, roscas, biju, farinha de milho, arroz doce, melados, rapaduras, doce de amendoim, canjica.
Quando chegava à noite, depois do banho de bacia, tomávamos uma xícara de água benzida. E ai começava a cantoria deles para que nós, os netos, dormíssemos. Que coisa gostosa que era, ouço até hoje a voz de meus amados avós. Mas de uma coisa eu lembro que não gostava, porém, aceitava numa boa! Minha avó vinha para a cidade comprar tecidos, ela mesma confeccionava roupas para os netos.
Comprava logo uma peça inteira de pano e começava a preparar os nossos vestidos, todos de tecidos. Fazia modelos diferentes, alguns com rendas, outros com sianinhas, tules, bordados com pontos cheios, franzidos, pregueados, com botões, pregas em vaze. Ficavam lindos, lindos! Vovó Justina era brava, mas também era a nossa deusa na terra!!
Me chamava de ruaninha, por eu ter nascido loirinha e com os olhos azuis iguais aos dela. Às vezes ficava meio ruiva, por ficar muito no sol. Nossa família tem muitas misturas, bugre, italianos, mineiros e negros. Oh, família abençoada é essa a minha! Saudades!!!
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Cleide Aguiar
Casada com Sérgio e mãe de Dalila Tais e Danilo Tauê, seus amores, é também membro do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Sorocaba (CMDMS), além de representante do grupo da Melhor Idade. Atua como Promotora Legal Popular (PLP) e é ativista na proteção dos animais. Adora dias nublados, sem chuva, viajar e boa música.
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