A ENCANTADORA Santa Rita de Ibitipoca (MG)!
- Lilis | Linhas Livres
- 14 de set. de 2018
- 8 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Por Miriã Almeida
Fotos Edhorizonte, Vertentes Gerais, Turismo MG e Arquivo Pessoal Miriã Almeida

Até os meus vinte anos de vida nunca tinha saído do estado de São Paulo. O lugar mais longe que conheci da minha cidade, Sorocaba (SP), foi Campos de Jordão, numa viagem em família, realizada em 2015. Fora isso, sempre fiquei no interior paulista, dividida entre Sorocaba e as vizinhas Salto de Pirapora e Pilar do Sul.
A vontade de conhecer Minas Gerais sempre existiu. Meu pai fazia algumas viagens em seu antigo emprego para Goiás e costumava falar sobre Minas. Aliás, há até um ditado sobre essa experiência que diz: “quem conhece Minas Gerais, não esquece jamais.” De alguma forma, isso alimentou dentro de mim a vontade de viajar para lá.
Conheci meu esposo em 2015 e logo fiquei sabendo que a mãe dele era mineira, assim como quase todos os tios e tias. E também que em Minas, em uma pequena cidade do interior, moravam seus avôs paternos, dona Maria e senhor José de Souza, além de dois de seus tios – tio Barão e tio Valmir. Nesse ano de 2018 tivemos, enfim, a oportunidade de visitá-los.
E é assim, caro leitor, que minha experiência em solos mineiros começa, acompanhada de meu pai Evandro, meu esposo Gabriel e meu sogro Edmar. Foram cerca de dez horas no banco de passageiros do carro e, através da janela, os morros e montanhas de Minas iam formando uma bela paisagem, me fazendo esquecer da canseira da longa viagem.

A distância de Sorocaba (SP) até o nosso destino em Minas Gerais é de cerca de 570 km. Nessa trajetória, passamos pelas principais rodovias do país, sendo elas a Raposo Tavares (SP-270), Senador José Ermírio de Moraes, a Castelinho (SP-075), Santos Dumont (SP-75), dos Bandeirantes (SP-348), Dom Pedro I (SP-65) e Fernão Dias (BR-381).
A simplicidade das paisagens campestres logo tomou conta do caminho assim que começamos a entrar nas cidades mineiras do interior do estado. Casinhas coloridas, pequenas igrejas à beira da estrada, crianças brincando na varanda das casas - e um fato interessante é que todos paravam para olhar o nosso carro que passava.
Meu pai, empolgado, buzinava para quem estivesse nas ruas, de modo a cumprimenta-los, e os moradores respondiam com um aceno de mão, um levantar de chapéu e sempre com um sorriso no rosto. Paramos em lugares turísticos e tive minha primeira experiência gastronômica: provar do famoso pão de queijo mineiro, típico da culinária de Minas Gerais.
Confesso, foi um dos melhores sabores que já experimentei. Diferente do nosso, o paulista, o deles pode ser recheado com os mais diversos sabores, como carne de panela, frango com catupiry e até mesmo torresmo (toucinho de porco à pururuca). Isso me fascinou.

Seguimos viagem para o nosso destino um pouco mais afastado da região central, uma cidadezinha de nome longo: Santa Rita de Ibitipoca (MG). Para chegarmos foi necessário passar por uma estrada de terra, com trechos de asfalto abandonado e marcado pelas rodas de grandes caminhões que passam por ali, o que gerou alguns empecilhos buraquentos.
Em uma das tantas curvas, avistamos nosso destino e meu esposo repetia, o tempo todo empolgado, que eu iria me impressionar com o pequeno tamanho do vilarejo. Mais alguns minutos depois e vimos a entrada da cidade e nos deparamos com a simplicidade interiorana mineira.
Um município com apenas um posto de gasolina, um postinho de saúde e, o que mais me impressionou, uma casa de maternidade. A população estimada da pequena cidade, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, é cerca de 3.500 ibitipoquenses, dado que reforça a simplicidade do local.
A casa dos nossos avós – sim, porque agora são meus também -, fica na rua principal, ao lado do salão de cabeleireiro de um de seus filhos, chamado Barão, o único cabeleireiro masculino da cidade. Fomos muito bem recebidos por toda a família.
Esta recepção contou com um prato repleto de torresmo, não esses que compramos por aqui em terras paulistas, mas o torremos verdadeiro, pururuca, original, preparado com muito carinho pela minha sogra Neusa e suas irmãs, Rita e Maria, que também estavam visitando a família.
Almoçamos todos juntos, ao som de histórias encantadoras sobre outras épocas e memórias. Mas confesso, minha curiosidade estava grande e logo pedi ao meu esposo que me mostrasse a cidade. Saímos a pé. Andando, pude ver que as casas eram todas próximas das calçadas e que poucas tinham portão – sinalizando a arquitetura de uma época remota, talvez menos violenta e privativa.
Ao longo da caminhada escutávamos as conversas que vinham de dentro das casas, além dos cheiros de alimentos sendo preparados e quando havia alguém na janela, essa pessoa logo nos cumprimentava, evidenciando a humildade e educação no trato. Chegamos no que podemos chamar de centro de Santa Rita de Ibitipoca e, como toda cidade do interior, avistamos a praça principal, com alguns bancos e uma antiga fonte, que atualmente está sem água.

Exatamente ali há a igreja Matriz – que tem nome homônimo à da cidade que, como grande parte de Minas Gerais, é fortemente católica. Sentamos e observamos a rotina, e de repente me vi em um momento de choque, eu diria. Reconheço em mim o espanto que tive ao ver uma cidade tão pequena, tão simples, quase esquecida no tempo.
Com pessoas simples, em grande parte idosa, com comércio singular, que me remeteu à épocas distantes, como açougues naturais que ofertavam produtos que vinham dos sítios dos próprios moradores locais. Um exemplo desses açougues era de uma de nossas tias, a dona Aparecida, conhecida na cidade por preparar as melhores linguiças artesanais e os torremos mais pururucas.
Os demais mercados eram pequenos, comparados aos “nosso” e o sistema de cobrança ainda é realizado na calculadora e caderneta. Não havia poluição, semáforo, barulho de carro. Tudo isso foi trocado por bicicletas, pessoas indo aos lugares a pé, de cavalo ou charrete. Acostumada com uma rotina acelerada, com barulhos da cidade urbanizada, fiquei apenas observando como o mundo é imenso e como somos diferentes.
A simplicidade e a calmaria daquele pequeno vilarejo preencheram a minha alma e meu coração. Por um momento esqueci da correria de Sorocaba, das pressões do meu trabalho, dos anseios pelo fim da faculdade. Por um momento me permiti ser calma, ser mineira.

Natureza
Ficamos apenas três dias em Santa Rita e, no último, conhecemos o principal ponto turístico da cidade, a Serra de Ibitipoca. Visitada por pessoas de vários lugares do mundo e, até mesmo por nossos artistas globais, como Isis Valverde e Selton Melo, a Serra de Ibitipoca é de tirar o fôlego.
E quando digo que é de tirar o fôlego, não estou dizendo apenas pela beleza, mas também de cansaço, pelo menos da minha parte. Sedentária que sou, trabalhando apenas sentada durante nove horas por dia e que com amnesia da academia há uns bons cinco anos, a Serra de Ibitipoca me deixou ofegante, literalmente.
Com belas montanhas e quedas d’àgua de deixar qualquer um apaixonado, o Parque Estadual da Serra de Ibitipoca é uma das maravilhas mineiras e um ótimo destino aos amantes da natureza. Conhecemos lugares como o Lago dos Espelhos, Lago Negro, Lago das Miragens, a Prainha e a Ponte de Pedra.
Voltamos maravilhados com nossa pequena viagem, com o coração transbordando pelo carinho que nossos familiares mineiros demonstraram por nós, nos acolhendo de maneira tão aconchegante e receptiva. Trouxemos de lá, além de queijos e doces, a lembrança do carinho das pessoas da pequena Santa Rita de Ibitipoca e um desejo imenso de voltar.
Eu, em especial, trouxe uma certeza, clichê eu diria, mas uma pura verdade: realmente “quem conhece Minas Gerais, não esquece jamais.”
SOBRE O PARQUE ESTADUAL

O Parque Estadual Serra do Ibitipoca faz parte dos munícipios Lima Duarte e Santa Rita de Ibitipoca, microrregião de Juiz de Fora (MG), e é administrado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF – MG). Com boa sinalização, o parque dispões dos seguintes circuitos: Roteiro Janela do Céu (percurso total de 16 km), Roteiro Pico do Pião (percurso total de 11km) e o Roteiro das Águas (5 km).
Escolhemos fazer o Roteiro das Águas, por ter um percurso menor já que éramos iniciantes nessa aventura, e nele conhecemos belezas incríveis, escondidas entre montanhas e declínios.
A Prainha foi nossa primeira parada. Com um belo lago translúcido, a Prainha tem esse nome devido a areia branca, que na realidade é o pó das rochas que compõe o lugar. Com o passar dos anos, esse pó transformou a beira do lago é uma completa prainha. Um ótimo lugar para relaxar e curtir a família.

Seguimos para o Lago dos Espelhos. Com uma bela queda d’agua, o lago do espelho carrega esse nome porque, conforme a posição do sol, o lago reflete o céu. Nossos últimos lagos foram o Lago das Miragens e o Lago Negro, com a água tão escura que é chamado pelos mineiros de “água de Coca-Cola”.
Atravessemos a Ponte de Pedra, o que para mim foi um grande desafio devido a latitude do local e os perigos da travessia. Após atravessarmos e descermos a montanha, encontramos a caverna da Ponte de Pedra, o que foi, ao meu ver, o melhor lugar da trilha.
Foi incrível estar dentro da caverna, ouvir apenas o barulho das águas que passam por ela, sentir a umidade e observar a vegetação que insistia em nascer em um lugar tão inusitado. Acredito que visitar ao parque seja crucial para aqueles que estão turistando nos arredores mineiros.

Serviço:
Para ingressar no parque os valores variam entre R$20 e R$ 25 (dia de semana ou final de semana, respectivamente). Estacionamento também é pago e varia de acordo com o tipo de veículo. O horário de funcionamento é das 7h às 18h. Informações: http://www.ibitipoca.tur.br/parque/

Em especial
Não mencionei antes, mas explico aqui, com muito carinho, que nossa ida à Santa Rita de Ibitipoca teve um motivo especial: visitar nossos avós, dona Maria e seu José de Souza, que se encontravam debilitados devido a enfermidades. Felizmente pudemos vê-los e senti-los a tempo. Mas logo após que voltamos para casa, exatamente duas semanas depois de nossa viagem, nosso avô faleceu, deixando então belas histórias e inúmeras memórias.
Infelizmente também, não pudemos retornar para a despedida, mas soubemos o quão foi querido em vida. Conhecido por todos da pequena cidade, seu velório foi repleto de amigos queridos, com direito até de uma banda tocando suas músicas preferidas.
A mim, coube apenas homenageá-lo aqui, a quem dedico esse texto. Àquele senhor amoroso, que tive a honra de conhecer, pessoa dedicada, pai de 10 filhos, vô e bisavó de tantos pequenos que, em seus momentos de plena saúde, esteve presente na vida, contando histórias e cantando suas “modas”.
Seu Zé de Souza,
foi um prazer conhecer sua terrinha, visitar o seu lar, ouvir sua histórias. Sinta-se orgulhoso aí de cima pelos frutos que produziu aqui, pelas sementes que plantou. E saiba que em solos mineiros e paulistas há corações transbordando de amor e de saudades do senhor. Acredito que um dos trechos de uma de suas músicas preferidas, Moreninha Linda, de Tonico e Tinoco, seja capaz de traduzir nossos sentimentos por ti:
“Eu tenho meu canarinho,
Que canta quando me vê,
Eu canto por ter tristeza,
Canário, por padecer,
Da saudade da floresta,
Eu, saudades de você”
_
Confira também, pela mesma autora:
***

Miriã Almeida
Dona do mundinho azul, lutando todos os dias com seus próprios leões. Ela é da paz e pela paz. Futura jornalista e, quem sabe, administradora também. Corajosa por acreditar no amor e medrosa para filmes de terror. Coragens absurdas, medos ingênuos. Não há nada que a impeça de acreditar, a não ser ela mesma, mas pode ter fé, um dia ela chega lá. Lá? Aonde? Aonde ela quiser chegar. (Leia mais aqui!) Foto de Pâmela Ramos.
Miriã também escreveu:
*Curta nossa página e fique sabendo das novidades!
**Conheça os demais autores aqui!
Comments