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A MULHER quebrada!

  • Foto do escritor: Lilis | Linhas Livres
    Lilis | Linhas Livres
  • 17 de mai. de 2019
  • 2 min de leitura

Por Nicole Bonentti

Imagem Divulgação


Hoje, parada no semáforo em horário de pico, vi do outro lado da rua uma mulher caminhando. Pelo social que usava, acredito que saía do trabalho aquela hora e imagino que estava indo para casa. Um pouco atrás dela se aproximava um homem, vestido com roupas para atividade física, ele andava depressa, aparentando uma caminhada noturna. Em questão de segundos o tal homem alcançou a mulher e, em poucos segundos mais, a ultrapassou. Toda a cena aconteceu rapidamente, mas eu, que já observava a situação esperando o desfecho, não fiquei surpresa ao ver a mulher se assustar com a presença do sujeito, se mostrar perdida e receosa mesmo após ele estar metros a sua frente.


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Estou enjoada de discursos batidos tanto quanto acredito que qualquer outra pessoa esteja e, mais do que isso, sei que nós, mulheres, já contamos nossas várias experiências andando pelas ruas e nos deparando com figuras do sexo masculino. Acredito que todos já tenham lido algo sobre. Mesmo assim, algumas coisas não abandonam meus pensamentos. Essa é uma delas. Já peguei um Uber que desviou o caminho para minha casa, entrou na contramão e me ofereceu uma bebida. Cheguei em casa chorando e tremendo tanto que meu corpo reagiu e me levou ao hospital na mesma madrugada.


Já fui a uma festa esperando me divertir e vi minha vida virar uma pesadelo por não ter meu corpo respeitado por um homem. Depois disso vi minha intimidade ser desrespeitada por muitos outros. Uma vez, conversando com um cara que pretendia me levar para um encontro, contei a ele que meu maior medo era de um estupro e ele, por sua vez, me respondeu dizendo que seu medo mais profundo era o de aranha. E nós nunca chegamos a sair, sem necessidade de explicação, não?


Ser mulher é se acostumar a viver com medo. É engolir em seco imaginando a possibilidade de não conseguir pedir ajuda, se um dia precisar. E desejar que a morte acompanhe a violência. Pois violência maior é viver em um corpo que já não é mais seu.


Ser mulher é tentar ler qualquer possibilidade de um relacionamento abusivo e temer virar notícia nos jornais. Ser mulher é engolir sexismo, desigualdade salarial, cantadas, assobios, puxões de cabelo, passada de mãos e ofensas machistas sem mais sentir seus gostos. É mastigar o ódio pelando, sem reclamar que queimou a língua.


Chorar de desespero e suspirar com dor a cada novo caso de feminicídio sem solução. Ser mulher é ser fraca, independente de quanta dor somos capazes de aguentar. Porque o sexo frágil é aquele que, culturalmente, destina-se à mulher, ao nascer, herdando a possibilidade de ser quebrada.


E o conserto é algo que, juntas, estamos lutando pra descobrir.


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Nicole Bonentti


Bagunça em forma de gente e ansiedade de olhos castanhos. Adora falar sobre política e aprender com diálogos cotidianos. Sorri para estranhos e fala sem parar, timidez nunca foi uma característica. Paladar infantil e gosto musical duvidoso. Tudo que pinta no caminho vira crônica e reflexão. As certezas ela deixa pra lá. Leia mais aqui!) Foto de Pâmela Ramos!


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