ALARME vivo!
- Lilis | Linhas Livres
- 25 de set. de 2018
- 3 min de leitura
Por Laura de Aro
Ilustrações de Elisa Riemer*
o copo de água caiu no chão com um som agudo alarmante. Helena levantou de sobressalto e colocou suas pantufas de porquinhos para descer as escadas. olhou para a casa toda, e nada. essa casa toda escura. não havia uma alma viva. Helena caminhou meio atordoada. por seus porões, até então, desconhecidos. subiu o sótão e abriu a porta. olhou pro lado e a cama se mexeu. era a vida se manifestando. mas Helena se assustou.

acordou de sobressalto e olhou para toda casa, e nada. passou o dia com suas tarefas rotineiras e o barulho parecia ter desaparecido, há quem diga. o barulho ficou dentro dela e, como turbilhão, movimentou todo seu corpo. como uma dança psicodélica. teve que sair para comprar pão, afinal, o que comeria naquele dia? quando voltou, o copo de água caiu no chão novamente, com um som agudo alarmante.
Helena levantou de sobressalto e colocou suas pantufas de porquinhos para descer as escadas. olhou para casa toda e nada. essa casa toda escura. não havia uma alma viva. Helena caminhou pela casa atordoada. por seus porões, até então, desconhecidos. sentia que dessa vez, a menina seria, não mais a Helena de cabelos castanhos e olhar meigo.

sentia que, dessa vez, a menina de cabelos castanhos e olhar meigo seria ainda Helena, mas a Helena aventureira, da vida. caminharia nas entranhas do profundo. viajaria mares. ultrapassaria os oceanos da vida. o que é o oceano? esquece. subiu as escadas procurando um sinal. vasculhou as gavetas, armários, camas, objetos. questionou a vida e, no fim, só se zangou.
onde está Helena? desceu as escadas e deu de cara com a sua mãe e, então, ela perguntou: “Helena onde está com a cabeça? desse jeito vai enlouquecer!” Helena comprimiu os braços. alcançou a raiva e deixou a água limpar. rasgou o peito e de novo ouviu o barulho. era o copo de água. caiu no chão com um som agudo alarmante. Helena levantou de sobressalto e colocou suas pantufas de porquinhos para descer as escadas.

olhou para a casa toda, e nada. essa casa toda escura. não havia uma alma viva. Helena caminhou pela casa meio atordoada. por seus porões, até então, desconhecidos. onde estava Helena? Helena foi e não voltou mais. subiu as escadarias e entrou no banheiro. subiu no banco verde vagabundo de plástico e espiou, através da janela pequena com grade, o mundo lá fora. sentiu que estava voando.
mas olhou para seus pés e sentiu cócegas. “Estou viva”, pensou. de novo ouviu o barulho. era o copo de água. caiu no chão com um som agudo alarmante. Helena levantou de sobressalto e colocou suas pantufas de porquinhos para descer as escadas. olhou para a casa toda, e nada. essa casa toda escura. não havia uma alma viva. Helena caminhou pela casa meio atordoada. por seus porões, até então, desconhecidos.
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*Elisa Riemer é artista gráfica, artivista e amante. Constrói sua arte em meio a própria autodescoberta e coloca em suas imagens toda a sensibilidade da arte de adentrar o próprio universo. A complexidade das relações entre mulheres, do amor e das muitas sensações que ele desperta são descritas em símbolos, montagens, trabalhos de colagens e fotomontagens.
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Laura de Aro
Essa dor que paira sobre amar os livros vem de muito tempo. Desde pequena lembro dos livros que lia. Lia-os e depois, eu e a minha amiga conversávamos sobre o que gostávamos e não. Sabe, caro leitor, troca de figurinhas? Depois de tardar, como um desabafo da existência, a escrita foi crescendo junto com a leitura. Cada vez mais eu lia e escrevia. A dor dos livros passou, quem sabe quase que um desinteresse vagabundo. A dor da escrita se criou. Entendo que escrever é criar e, por meio desta arte, poder expressar o que paira no ar. Se em dias de angústia foi desabafo, hoje não posso dizer o mesmo. Meu nome é Laura, tenho 22 anos. Esse ano me formo! Quase ia me esquecendo, sou estudante de Psicologia, prazer. (Leia mais aqui!) @ldagalera no Instagram. Foto San Paiva | Fotopoesia
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