ALUMÍNIO, lugar do meu coração de criança!
- Lilis | Linhas Livres
- 15 de fev. de 2018
- 6 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Por Lilian Prado
Fotos (na ordem) Paulo Bretas; Arquivo Pessoal (Arte San Paiva | Fotopoesia); CBA

Alumínio é um município acolhedor, que diariamente recebe novos moradores, oriundos de outras cidades, para trabalhar Companhia Brasileira de Alumínio - mais conhecida pela sigla CBA, que foi inaugurada em 1955 -, além das terceirizadas. A cidade possui muito verde e tem alguns prédios históricos, como a capela em louvor a São Francisco de Paula, que é considerada um patrimônio. A antiga capela, que está sendo protegida pela fábrica, foi restaurada e faz parte de muitas das minhas lembranças de infância.
Sou de uma família católica, meus pais se casaram nesta capelinha e, logo que nasci, fui batizada lá. Já na igreja matriz, também em louvor a São Francisco de Paula, eu e irmãos fizemos a Primeira Comunhão e a Crisma - sacramentos católicos. Há também uma outra capela, mas em louvor de Santa Luzia. É simples e bonita. Antigamente, quando morávamos lá, eram realizados muitos batismos e confissões com padre Álvaro, antigo pároco, uma pessoa muito boa e que ajudava os necessitados. Sempre que eu o encontrava pedia sua bênção.

Foi ali, na região central, que crescemos - eu e meus irmãos -, participando de grupo de jovens e das quermesses festivas; um tempo que tenho saudade. Alumínio ainda é uma cidade pequena, com 83 km² de extensão, que começou a se desenvolver após a emancipação, em 30 de dezembro de 1991, sancionada pelo então governador do estado, Luís Antônio Fleury Filho.
Há um lago que era conhecido na época como Tancão, era o mais frequentado por ter uma ripa de laje usada como trampolim para mergulhos. Muitas famílias se reuniam para um churrasco e para jogar truco nos finais de semana. Esse local também era conhecido como Piscina dos Crentes, porque na época eram realizados muitos batizados da Congregação Cristã do Brasil (CCB).
Quando eu era criança, a cidade possuía quatro escolas estaduais e uma escola da indústria, o Serviço Social da Indústria (Sesi), onde estudei de 1985 à 1995. Tenho várias lembranças de amizades, jogos esportivos de interclasses, concurso de redação e poesias. Lembro-me das danças, quadrilhas, teatros, e da disciplina da escola; todos os alunos uniformizados e diariamente em filas para cantar Hino Nacional. Um tempo gostoso.
Atualmente o Sesi é uma escola conceituada na região e recentemente a escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) também instalou-se na cidade. Outras escolas estaduais criadas foram municipalizadas, inclusive a que completei o Ensino Fundamental, a Escola Estadual Isaura Kruger. Tenho lembranças maravilhosas de lá, amizades, festas da pizza e junina - onde conheci meu primeiro namorado e, agora, esposo.

Alumínio possui uma biblioteca municipal e também uma escola de música que fez parte de minha infância. Havia aula de bateria e fanfarra, mas infelizmente por falta de alunos foram extintas. Fiquei chateada com isso, adorava estas disciplinas. Mas atualmente a escola continua com as aulas de piano e violão. Possui uma praça que recentemente foi revitalizada, acabando com a história que carregava. Era linda, tinha muitas árvores e uma fonte imensa. Na minha infância aprendi andar de bicicleta ali e meus pais levavam eu e irmãos brincar no local.
O único ponto realmente turístico, porém modesto, ainda é a represa de Itupararanga – que também envolve os municípios de Votorantim e Ibiúna. No verão, moradores costumavam se refrescar, praticavam natação, faziam piqueniques na beira da represa. Muitos também arriscavam uma pesca, que já era proibida.
Nas folgas de finais de semana, eu e meus pais nos juntávamos com meus tios e fazíamos acampamentos coletivos. À noite era muito boa, com rodas de conversas e história antiga. Cantávamos canções sertanejas, uma delícia.
Mas com o tempo algumas partes do rio foram cercadas pelos novos proprietários, devido alguns atos de vandalismo e prática de pesca predatória, algumas partes das margens foram isoladas e poucas liberadas para o acesso público.
E como muitas cidades do interior, Alumínio possui seus contos de mistérios também. Um deles, mais conhecido na época, era a Assombração do Frade. Diziam que ele ficava na paineira na entrada da cidade e só aparecia após a meia-noite de dia de Lua Cheia, e que segurava uma vela. Agora não existe mais essa árvore, ela foi derrubada devido cupins.
Tinha também o conto do Fantasma na Linha do Trem. Diziam que na linha do trem o fantasma de um homem que foi atropelado pela locomotiva andava à noite e, carregando uma cabeça, causava medo. São histórias que me remetem à uma época de fantasia e inocência da infância ou pais contavam para amedrontar os filhos.
Atualmente, adulta já, observo que o Pronto Atendimento, por exemplo, não possui estrutura para atender pacientes em estado grave. A cidade possui transporte ineficiente aos bairros rurais, população que sofre com horários de ônibus escassos, com mais de três horas de intervalo entre um e outro; não possui campanha para conscientização para coleta seletiva de lixo e material reciclável, ou posse responsável de animais, uso consciente da água.
O trânsito é considerado bom, pois dá para se locomover facilmente de um bairro a outro, possui mercados pequenos que atendem a demanda atual de 16 mil habitantes, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Pesquisas e Estatísticas (IBGE – 2010). Está crescendo no ramo da construção civil e há muita procura por terras nos bairros rurais; pessoas oriundas de cidades maiores que estão buscando tranquilidade.
Lembro-me dos passeios que fazíamos por esses bairros, quando descobríamos lugares lindos, com cachoeiras e bicas. Era gostoso desbravá-los. Atualmente o comércio é maior, apesar de poucas lojas de roupas, com preço inacessível para muitos moradores - exatamente como antes -, que por sua vez, recorrem a outras cidades para consumir, com mais opções e preços.
Apesar disso tudo, como em toda cidade em desenvolvimento, possui muitos moradores antigos, aluminenses com orgulho de viver lá. Eu passei parte de minha infância e adolescência nessa cidade e tenho ótimas amizades e lembranças, dos desfiles cívicos, festa de aniversário da cidade, Passeio Ciclístico, Concursos de Beleza Garota Estudantil, Garota Coca-cola e o Garota Alumínio - este último participei em 1995, com 20 concorrentes, e fiquei em 5° lugar.
Brincávamos nas ruas e lembro-me da solidariedade dos vizinhos. Se algo diferente estava acontecendo na casa de alguém, imediatamente perguntavam se estava tudo em ordem, olhavam a casa uns dos outros quando viajavam e cuidavam dos animais. Era uma cidade tranquila, onde as crianças podiam ir sozinhas no mercado. Com o passar dos anos, felizmente, poucas mudanças ocorreram.
Segundo relatos de quem mora lá ainda hoje, a tranquilidade prospera. Há paz e depois das 22h é raro escutar barulhos de som ou carros. Muitos nem sonham em mudar de cidade devido o sossego que Alumínio proporciona. Amizades fiéis, tradição das quermesses. O que nos mostra a verdadeira essência do interior.
Resido em Sorocaba há 20 anos. Quando me mudei pra cá, senti muita falta das conversas e da tranquilidade. Não se via crianças brincando na rua, meu irmão era pequeno, demorou se acostumar com a nova realidade. Conseguimos boas amizades na escola e tivemos que nos acostumar com novos vizinhos, muitos ausentes. Então a cidade de Alumínio transformou-se em uma lembrança feliz da infância, que sempre estará guardada em nossas memórias e corações.

Alumínio
A cidade está localizada a 74 km da capital, São Paulo, e a 25 km de Sorocaba. Sua criação e nome, datada de 1899, estão atreladas à fábrica de cimento que funcionou até 1920. Depois, em 1941 foi iniciada a construção da CBA. Como sua principal matéria prima é o alumínio, a fama da fábrica atrelou o minério ao nome da localidade antes mesmo de ser cidade. Até hoje a empresa emprega pessoas de varias localidades e contribui muito com a economia e desenvolvimento do município. A Represa de Itupararanga, construída em 1911 pela antiga Light – companhia de eletricidade canadense -, possui 192 km de margens e uma área de 936 km2, abrangendo os municípios de Alumínio, Cotia, Ibiúna, Mairinque, Piedade, São Roque, Vargem Grande Paulista e Votorantim. Informações: www.aluminio.sp.gov.br.
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Lilian Prado

Também conhecida por Lilian Carla, tem 38 anos, é casada e mãe de um garoto muito especial, deficiente auditivo. E motivada pelo filho, é estudante da Língua Brasileira de Sinais (Libras), além de colaboradora da comunicação junto da comunidade surda. Gosta de viajar com a família, admira a natureza e uma boa música. Alegre, solidária e responsável, sonha com um mundo melhor, pacífico e acessível. (Leia mais aqui!) Foto San Paiva | Fotopoesia
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