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  • Foto do escritor: Lilis | Linhas Livres
    Lilis | Linhas Livres
  • 30 de ago. de 2018
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de set. de 2018

Por Natalia Gómez Targa

Imagens Street Art Google


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Mural "Cortar e Começar", Martin Watson, Miami, Flórida (EUA)

Eu já tive muito medo de morrer. Quando tinha 25 anos, tive um câncer, e a ideia da morte era como um abismo. Um fim, um não-realizar. E realmente eu não estava pronta para morrer e, apesar de todo medo que eu passei, não passei nem perto da morte. Mas de alguma forma, aquilo foi a minha primeira grande oportunidade de perceber que a vida não era um direito, mas uma chance, e que eu não tinha controle sobre muitas coisas.


Todo aquele sofrimento, todo aquele medo, toda aquela tristeza e senso de injustiça me jogaram na cara o que era realmente importante para mim, a vida. Ressignifiquei-a. Algumas lembranças até bobas; algumas pessoas que eu realmente amava e não queria perder; a sensação da língua dentro da boca, de ter um hálito, de ter um cheiro. De ser mulher, de estar viva.


Fiquei um bom tempo olhando para tudo isso, costurando um monte de linha dentro de mim. Mudei muito depois disso. Poderia listar várias decisões concretas, como sair do emprego para trabalhar em casa, ou conhecer meu marido e me casar bem rápido, apenas um ano depois do primeiro encontro. Mas não foram só essas coisas que ressignificaram tudo.


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Don John, Urban National, Berlin, Alemanha

Nesses dez anos desde o câncer (completos em dezembro de 2018), eu nunca esqueci que a morte é sempre uma possibilidade. Então eu fui fazer tudo que eu podia fazer, desde aquele momento do diagnóstico. Eu aproveitei as chances de me divertir. Eu coloquei as prioridades realmente em primeiro lugar.


Eu não esperei mais um pouco para engravidar, na hora que bateu vontade, fiquei. Eu não deixei para lá quando senti um chamado de morar no interior. Eu não deixei a infelicidade das coisas pequenas tirar meu olhar da alegria de estar viva. Enquanto muitos dos meus amigos pensavam que iam viver para sempre e que os sonhos podiam esperar, eu tinha, e ainda tenho, a certeza de que não é bem assim, então tenho pressa.


De uma forma inesperada, um pequeno câncer aos 25 anos de idade me deu uma clareza que eu poderia levar uma vida inteira para construir. Foi assim que eu decidi bancar a vontade de ter dois filhos longe de casa, e montei uma vida que me permite estar perto deles. Nessa saga de criar dois bebês longe da família, quase sem amigos por perto, eu me conectei muito comigo mesma.

Foi outra época de solidão, de angústia, de não saber. Foi o momento de assumir que eu tinha um projeto de vida diferente dos meus pares, e que isso significaria estar bastante só. E nesse amontoado de dias que já somam mais de três anos de maternidade, eu percebi que não preciso estar com muita gente ao meu redor, ou ter tralhas e títulos e avais para estar bem, para ser feliz.


Eu posso seguir exatamente o que meu coração manda e, mesmo assim, ficar tudo bem. Sem esquentar muito com o que os outros pensam. Só procurando ser boa na minha própria vida e para cada um que cruza o meu caminho, seja a garçonete, o assessor de imprensa que me atende no telefone, ou a minha melhor amiga.


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Mural "Seja livre", Melbourne, Austrália

Foram duas grandes jornadas que me conectaram comigo mesma. Primeiro o câncer, o risco de morte eminente, e depois, a maternidade longe de casa, ou seja, a vida. Hoje eu não posso nem pensar em morrer, parece que perdi esse direito da mortalidade, porque tenho duas crianças pequenas que ainda precisam muito de mim. Mas no meu coração, eu sei que está tudo bem em ir embora um dia.


Eu sei que sou uma luz que um dia vai voltar para a sua fonte. A mesma luz que hoje eu vejo brilhar nas pequenas coisas que a vida me mostrou, como os olhos dos meus filhos, os pontinhos no céu estrelado, o sol brilhando na imensidão do campo que eu amo tanto ter por perto. A mesma fonte que hoje brilha por meio de mim para o mundo, e eu agradeço e aproveito, sem nunca me esquecer de que o momento de ser, verdadeiramente, é agora.

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Confira também, pela mesma autora:


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Natalia Gómez Targa


É uma escritora que nasceu gostando das palavras e exerceu essa paixão de diferentes formas. Foi jornalista de economia por 14 anos, se especializou em jornalismo literário, teve vários blogues e hoje produz conteúdo para produtos digitais. Livre de rótulos, escreve aqui por puro prazer de escrever e pela alegria de deixar brilhar, pelas palavras, a sua luz interior. Paulistana, tem 34 anos e vive em Maringá (PR) com a sua família desde 2015. (Leia mais aqui!) Foto de Michele Moraes.


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