AQUELE ontem!
- Lilis | Linhas Livres
- 18 de abr. de 2018
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Por Natalia Gómez Targa
Pintura Candido Portinari*

Já faz um tempo que parei de acreditar que adultos sabem mais das coisas que as crianças. Com sua simplicidade, os pequenos têm uma clareza que vamos perdendo ao longo da vida. Sabem se entregar ao momento presente. Quando brincam, só brincam. Quando olham, realmente veem. Sabem ficar maravilhados.
Meu filho de três anos é como todas as crianças e entende das coisas. Para ele, existem apenas dois tempos: o agora e o passado, que ele chama de "aquele ontem". Tudo que não está acontecendo no momento se passou "naquele ontem", seja realmente a véspera ou qualquer momento no passado.
Meses atrás são aquele ontem. Ontem é aquele ontem.
Faz todo sentido porque já passou e não importa quanto tempo faz. Tem muitas coisas que me tocam profundamente e aconteceram há muito, muito tempo. Mas como são antigas, às vezes eu me cobro não lembrar. Para que pensar sempre na minha avó que morreu há 11 anos?
Pra que rir de piadas que voltam vinte anos depois, ou sentir de novo a felicidade no cheiro do material escolar dos meus filhos, como se fosse eu de novo na escola, com a vida começando? Muitas outras memórias recentes às vezes me limitam ou querem ditar quem eu quero ser agora, como a profissão que até meses atrás eu desempenhava e hoje eu sei lá. A mente se pergunta, como eu posso ter mudado tanto em tão pouco tempo?
Para muitas mães, só o tempo de uma gestação traz mais mudanças do que eras da vida anterior. Eu, depois de duas, me vejo totalmente reformulada. A verdade é que a gente é muito maior do que a questão cronológica e o tempo pouco importa. Está tudo lá guardado naquele ontem: quem fomos no começo, quem fomos outro dia.
E todos foram fundamentais pra que o eu atual aconteça. A minha mãe costuma falar que somos como aquelas bonequinhas russas que vão umas dentro das outras, várias versões de nós mesmas, de diferentes ontens. Eu acho que é bem verdade. Então eu me liberto pra nutrir algumas delas no meu coração e tento focar em quem importa mais: o eu do agora, o eu do presente que, diferente do passado, nunca me escapa.
*Candido Portinari (1903-1962) foi um artista plástico brasileiro com maior projeção internacional, tendo pintado cerca de 5 mil obras. A pintura acima - "Meninos brincando", 1955 - óleo sobre tela.
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Natalia Gómez Targa
É uma escritora que nasceu gostando das palavras e exerceu essa paixão de diferentes formas. Foi jornalista de economia por 14 anos, se especializou em jornalismo literário, teve vários blogues e hoje produz conteúdo para produtos digitais. Livre de rótulos, escreve aqui por puro prazer de escrever e pela alegria de deixar brilhar, pelas palavras, a sua luz interior. Paulistana, tem 34 anos e vive em Maringá (PR) com a sua família desde 2015. (Leia mais aqui!) Foto de Michele Moraes.
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