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BOA ESPERANÇA, a Fazenda da minha vida!

  • Foto do escritor: Lilis | Linhas Livres
    Lilis | Linhas Livres
  • 19 de abr. de 2018
  • 4 min de leitura

Atualizado: 19 de set. de 2018


Por Marie Chervenkov

Fotos San Paiva | Fotopoesia e Assessoria de Imprensa PMS


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Nasci no sítio do meu avô materno, em 1955, e quando eu tinha três anos de idade, meus pais mudaram-se para a Fazenda Boa Esperança, onde passei vários anos da minha infância, vivenciando momentos maravilhosos que trago guardado em minhas memórias mais felizes. Atualmente, vejo o quanto o progresso acelerou o desenvolvimento de minha cidade natal, Sorocaba (SP). A estrada de terra do bairro Itavuvu, que nos levava à fazenda, sentido centro-bairro (Zona Norte), virou a atual avenida Itavuvu.

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Imagem de 2012, quando houve o segundo megaplantio na área onde nascia a avenida Itavuvu

E a antiga fazenda transformou-se em bairros urbanos, como o Santa Marina e Paineiras. A demarcação está em papéis, que nem sei onde estão. Mas as minhas memórias jamais serão apagadas. A fazenda era muito grande, tinha 80 hectares de terras distribuídas para a agricultura, pomares, pastos, olarias e um porto de areia. O Rio Sorocaba passava no fundo da fazenda e ali era o porto de areia e as olarias. Meu pai era agricultor, trabalhava próximo à entrada da fazenda.


Eu e a minha família morávamos na primeira casa, logo a seguir tinha um vasto pomar de frutas, repleto de variedades. Isso marcou muito a minha infância, pois eu e meus irmãos comíamos frutas diretamente do pé. Ah! Como eu gostava disso. Lá nasceram mais três dos irmãos, Marta, Marisa e Joel. Entre Joel e Saul, o caçula, minha mãe perdeu um bebê com quatro meses de gestação, que nasceu em outro lugar. Na verdade, eu não entendia nada, era pura inocência.


Nessa época, éramos poupados de informações que, na mentalidade dos meus pais e de outras pessoas, eram desnecessárias às crianças. A vida era fantasiosa, cheia de histórias inventadas pelos contadores nas noites de lua cheia e de muito calor. Nesses dias, meu pai levava-nos ao terreiro da casa, feito de chão batido, estendia uma lona, e toda a família reunida ali se deitava, olhando as estrelas e os movimentos dos pássaros noturnos.

Ouvíamos as histórias contadas por ele e as afirmações da minha mãe, sua testemunha. Meu pai dizia: “Não é mesmo mãe que isso aconteceu?”. E ela respondia: “É sim, pai!”. Eu e meus irmãos, na mais pura inocência, ficávamos amedrontados e isso nos continha de muitas aventuras pela fazenda afora. Éramos crianças saudáveis e ativas, apesar de não ter muito tempo para brincar, pois desde muito cedo ajudávamos na roça e nos afazeres da casa.


Tudo era muito bom, porém dificultoso. A água era de mina, distante dois quilômetros da minha casa; a roupa era lavada em tábuas, também na mina; era uma vertente natural, e a água corria sobre as pedras. Minha mãe quarava as roupas brancas no gramado próximo. Tudo precisava estar piscando de branco. Isso significava na época que a dona de casa era limpa se a roupa estivesse branca e os utensílios de alumínio, brilhando como espelho - areados com areia fina e branca sobre trapinhos de pano.


Como toda criança, também gostava de brincar com meus irmãos, e nossas brincadeiras preferidas eram típicas da roça, como cavalo de pau, roda-roda, corre-cotia, passa-anel, pula-corda, amarelinha, batata-quente, virar piruetas nas árvores, entre muitas outras. Na fazenda, tínhamos muitos animais como cavalos, burros, mulas, porcos, galinhas, gatos e cachorros. Meus pais impunham as tarefas que deveríamos executar, tanto na roça quanto na casa e nos cuidados com os animais.

As dificuldades eram muitas, entretanto, não havia conhecido outras coisas mais modernas e práticas, o meu mundo era ali, com aquilo que a natureza me oferecia de mais puro e melhor. Fui feliz porque nunca soube o que era infelicidade. Estar em contato com a natureza, os animais e suas espécies variadas, leva-nos a uma viagem pura e repleta de fantasias inocentes, da melhor qualidade possível para a formação da nossa mente. Posso dizer que essa é a melhor parte de quem vive longe dos centros urbanos, essa inocência de memória feliz. É um privilégio sagrado, eu acho...


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Marco do "nascimento" de Sorocaba na avenida Itavuvu

Itavuvu


A região do Itavuvu está atrelada à história de Sorocaba antes mesmo do bandeirante Baltasar Fernandes chegar, em 1611, e depois criar o vilarejo, em 1954. Tupiniquins eram habitantes natos quando portugueses, bandeirantes e missionários cruzavam a terra rasgada em busca de minérios ou índios sulistas, para escravizar. Um pelourinho - símbolo da colonização real, que deslanchava no Morro de Ipanema -, foi erguido na antiga Vila de Nossa Senhora de Monte Serrat, entre 1599 e 1602, e depois passou a chamar-se Itavuvu – primeiro nome atribuído à cidade, antes de Sorocaba. A localidade era uma imensa fazenda que, somente em meados do século passado foi desmembrada e deu origens a vários bairros. Informações: www.sorocaba.sp.gov.br.


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Marie Chervenkov


Mãe de três filhos, avó de cinco netos, aposentada, mas ativa como profissional liberal. Neta de russo e búlgaro, rígida em suas escolhas e observadora de todos os momentos, tornando-os experiência e aprendizado. Tem 62 anos, é solteira, ama a natureza, música, poesia e a arte como um todo. Sincera, amiga e fraterna, gosta da magia, do encanto e dos detalhes da vida. (Leia mais aqui!) Foto San Paiva | Fotopoesia


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