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EMPATIA (s.f.)

  • Foto do escritor: Lilis | Linhas Livres
    Lilis | Linhas Livres
  • 11 de nov. de 2018
  • 3 min de leitura

Por Amanda Kafejo

Ilustração de Lee S. Hee*


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Senti-me como uma criança no primário, acredite, não é exagero. Estava eu no auge dos meus 26 anos, graduanda em psicologia, com cursos diversos no currículo, como técnico em segurança do trabalho, mas estava lá, aprendendo as letrinhas do alfabeto e, como método pedagógico, muito astuta, a professora escolheu a trilha infantil O Abecedário da Xuxa, como roteiro. Portanto, volto nos acontecimentos, eu, aprendendo o A-B-C, em pé, no ritmo da cantora Xuxa, constatando o óbvio: não tenho a mínima coordenação motora.


É verdade, eu que arrasava nas pistas de dança, estava me sentindo perdida, como aquelas crianças que não sabem a coreografia nas festinhas de fim de ano da escolinha. Foi assim que me senti. Mas não desisti. Confesso, fui para casa desconcertada e incomodada, como assim eu não sou alfabetizada?!


Contei minha experiência em forma de causo para os amigos para dar uma aliviada na tensão. Mas por dentro? Ah, camarada! Por dentro eu estava assustada. Na semana seguinte voltei ao curso de Língua Brasileira de Sinais (Libras). Foi muito mais fácil, havia treinado em casa as letras e já sabia o alfabeto e até algumas palavras quando, para minha surpresa, a aula era sobre expressão facial/corporal. Ah, que tormento!


Bom, eu sigo com o desafio, que para mim é o mínimo em dificuldade. Penso naqueles que são impostos à nossa maneira oralista de aprender a se comunicar e à falta de respeito e reconhecimento à esta língua gestual que possui uma estrutura gramatical própria. Os surdos possuem uma visão de mundo diferenciada e a modificam, tornando este mundo acessível e habitável. Realmente eu achava que sabia o que era empatia. Só achava.


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Em tempo:

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é uma língua gestual, oriunda de uma língua de sinais autóctones e que contou com a miscigenação da Língua Francesa de Sinais. A Libras não é uma versão gestual da língua portuguesa.


Trata-se de uma língua à parte, que conta com gramática e interpretação própria, criadas a partir de costumes e culturas regionais. Apesar disso, se assemelha com outras línguas gestuais do mundo todo, principalmente da América do Norte e Europa.


A Libras é reconhecida legalmente no Brasil, desde 2002, por meio da lei 10.436, como forma de expressão e comunicação. Vale lembrar que os primeiros registros da Libras no país são do início do século 19.


Porém, somente em 1857, com a inauguração do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), antigo Instituto dos Surdos, no Rio de Janeiro (RJ), realizado pelo então imperador Dom Pedro 2º, que a língua passou a ser ensinada oficialmente em solo brasileiro.


No entanto, após decisão numa convenção realizada em Milão, na Itália, em 1880, a língua gestual foi descartada, no mundo. Na ocasião, foi determinada a adoção da oralidade para a educação de todos, inclusive dos surdos - como forma de incentivo à comunicação verbal.


Por essa razão, por mais de 100 anos, a Libras deixou de ser ensinada e desenvolvida, impedindo, por consequência, a evolução da comunidade surda também. Somente em 1993, por força de movimentos e ativismos, um projeto de lei para sua legalização e determinação para educação foi protocolado no Congresso Nacional.


Ainda assim, votado e aprovado, com lei sancionada, somente em 24 de abril de 2002. No Brasil ainda, estima-se que 10 milhões de pessoas sejam surdas e, ao menos, 50% delas já utilizem a Libras para a comunicação.


Os dados são do Ines, que também acredita que, ao todo, 30 milhões de brasileiros tenham algum grau de surdez. Em 2017, o Ministério da Educação (MEC) comemorou os 160 anos de existência do Ines e reconheceu seu valor social.


*Lee S. Hee é um artista sul-coreano.


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Confira também, pela mesma autora:


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Amanda Kafejo


Estudante de psicologia e interessada por tudo que tenha relação com o comportamento humano, desde astrologia até testes psicométricos. Submete sua adorável filha, Mariáh, e sua namorada, Amanda, às suas descobertas teóricas. É feminista declarada, apaixonada por política, gatos, vinho barato, trabalho, comida e escrever sobre todos os itens acima.

*Amanda também escreveu:

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