ESPELHO, espelho meu!
- Lilis | Linhas Livres
- 13 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de set. de 2018
Por Laura de Aro
Foto Geir Magne Saetre

Aos poucos, caro leitor, perceberá que essa história passa em um matagal sem fim, numa fazenda. Fazenda que tem o rio, a casa simples e gado. O bezerro pra beber leite. A galinha pra virar ovo. O céu para se emocionar.
Antes de vir visitar essa casa, Helena estava perambulando por seu quarto, navegando entre as viagens de seus livros e a leveza das letras. Não se engane! Quero dizer, a vida na cidade, pra quem não vê um farol lá no fim do túnel, pode achar que é perseguição.
A cidade são prédios largos e formosos. Toda gente pra lá e para cá. Carro que buzina. Ônibus que freia. Não se engane! Onde há caos, há vida. Sem desmerecer o recanto. É que nadar no rio, acordar com o galo (cocoricó), colocar botina e passar o dia vendo, não tem preço.
Helena gostava de olhar o gado no final do dia, lá de longe, lá no matagal sem fim, voltando pra casa. Helena gostava de deitar na rede a noite e observar as estrelas. Voltar para o interior. Naquele dia acordou cedo.
Deu uma espreguiçada e, de pijama, calçou a bota e foi. Tomou leite fresco da vaca. Comeu ovo de pata com pão na chapa e foi. Tinha o costume de ir para seus matagais e se aventurar. Fazia uma caminhada (quase) não tão rotineira.
Subia o caminho do gado em direção ao pico. Via lá de longe a casa toda em sua pequenez. Nessas andanças olhou para o rio, logo que viu a imagem, se reconheceu.
Era o olhar curioso de quem busca a vida. Quantos espelhos há em si? “O espelho é para quem sou e para quem olho quando lembro de mim”. Havia canto dos pássaros, quando uma voz veio de dentro e disse: - “Perde-se”.
- “Não sei”. Helena respondeu para quem quisesse ouvir. Tudo era nada. E depois de uma caminhada extensa que custa, perde-se. Ela olhou para o rio ou ele olhou para ela?
Olhou para o rio de novo. Sentiu o cordão umbilical descolando de si. “Será que um dia ele se descolará, enfim?”, perguntou-se. O espelho arrebentou, gritou, quebrou e esperneou. “Nosso espelho, depois meu espelho”, ordenou.
E então, deu-se o olhar curioso como quem acabou de nascer, de viver. Olham-se as orelhas, os cabelos, a cor de pele. “O que você sente?” Então aproxima-se dele e grita: - “Uau! Como não havia visto?”
Os olhos se embasaram. A voz ficou turva. O olhar calou cabisbaixo. – “Sou seu espelho, posso ajudar?” Vem a voz de dentro e diz: “Perde-se”. Ela obedece.
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Laura de Aro
Essa dor que paira sobre amar os livros vem de muito tempo. Desde pequena lembro dos livros que lia. Lia-os e depois, eu e a minha amiga conversávamos sobre o que gostávamos e não. Sabe, caro leitor, troca de figurinhas? Depois de tardar, como um desabafo da existência, a escrita foi crescendo junto com a leitura. Cada vez mais eu lia e escrevia. A dor dos livros passou, quem sabe quase que um desinteresse vagabundo. A dor da escrita se criou. Entendo que escrever é criar e, por meio desta arte, poder expressar o que paira no ar. Se em dias de angústia foi desabafo, hoje não posso dizer o mesmo. Meu nome é Laura, tenho 22 anos. Esse ano me formo! Quase ia me esquecendo, sou estudante de Psicologia, prazer. (Leia mais aqui!) @ldagalera no Instagram. Foto San Paiva | Fotopoesia
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Parabéns, muito lindo!