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FABÍOLA JARDIM!

  • Foto do escritor: Lilis | Linhas Livres
    Lilis | Linhas Livres
  • 1 de out. de 2018
  • 4 min de leitura

Atualizado: 2 de out. de 2018


Fotos San Paiva


Cresci numa cidade não muito longe daqui, mas também nada perto. Sorocabana de nascença, humana na essência. Com meses de vida, meus pais deixaram a Terra Rasgada e voltaram a morar em uma pequena cidade no estado de São Paulo levando nos braços, eu e meus quatro irmãos. Rio Grande da Serra – onde literalmente é a terra da garoa -, é uma cidade pequena, daquelas com direito à praça no centro.


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Lembro-me da serração, que parecia atração turística, daquelas que você não enxerga um palmo na frente do nariz. Cresci num sítio onde meus pais eram caseiros, na estrada da Fazenda São Joaquim. E por muito tempo, aquele foi o meu único mundo. Era lá que a lua me seguia, eu andava e ela ia atrás de mim. No sítio os trovões eram mais altos do que os que a gente escuta na cidade e a chuva tinha cheiro quando encontrava a terra vermelha.


Os pingos de água na janela ganhavam vida e escorregavam, as flores tinham sabor, eu até as comia junto com as frutas que pegava no pé. O leite vinha da Mute, uma vaca bonita, responsável pelo meu bigodinho cheio de espuma e também pelo leite que derramava no fogão - mas a minha mãe insistia em dizer que a culpa era minha por não desligar o fogo a tempo. A família aumentou, veio mais um, e logo éramos 6. Não faltava brincadeira. Fui muito feliz.


Quando os meus pais se separaram, meu mundo no sítio desabou. No novo mundo que surgiu, havia muita dor e saudade, difícil entender esses sentimentos e viver com eles aos 7 anos de idade. Foi difícil a separação da minha família, tive que escolher entre meu pai ou minha mãe, entre minha mãe ou meus irmãos. Cresci longe dos meus irmãos e do meu pai, fui morar em outra cidade com a minha mãe.

Durante um tempo vivi somente com a minha mãe, foi quando aprendi o que é saudade, no dicionário faltaria espaço para descrever o que é a falta de um pedaço teu. Engasgo só de lembrar. Aquela família, hoje existe apenas nas minhas lembranças, tudo se desmanchou, não sobrou foto. Cresci exatamente com a melodia, “morei em tanta casa que nem me lembro mais”, do Legião.


E passei a responder pelas minhas escolhas e não sofrer tanto pelas escolhas dos outros. O leite passou a vir do supermercado, perdi o medo da chuva, mas ainda sinto o seu cheiro quando desaba em dias quentes. Voltei para a minha terra, hoje é a minha morada. Faculdade, amigos, trabalho, foi em Sorocaba (SP) que decidi recomeçar, caminhar com os meus sapatos.


Atualmente é onde moro e tenho um namorado. Sou professora, apaixonada pelo meu trabalho. Amante de corpo e alma. Uma boa amiga, não para muitos, mas para os que eu consigo dar conta. Pelo menos eu acredito que sou uma boa amiga, acho melhor eu perguntar! Sou feliz pela vida que escolhi viver. As maiores cicatrizes que carrego viraram belas histórias e atualmente tudo está muito melhor, eu consigo plantar com os pés calçados o que já facilita uma boa parte da caminhada.


Sou feita de dúvidas, sonhos e afetos. Amo a “minha casa é o meu reino” (do Biquini). E “meu melhor amigo é o meu amor” (dos Tribalistas) me faz acreditar que tenho sorte. Tenho amigos que não só na angústia, são meus irmãos. Sonho com a simplicidade cada vez maior da vida, anseio ver a beleza do meu cabelo ao branquear, me alegrar toda vez que uma criança nascer.


Sonho conseguir amar mais e perdoar mais, não perceber a dor e nem causa-la em ninguém. Conhecer o mundo ou boa parte de mim mesma. Sou amante de histórias reais, daquelas com fim ou sim. Intensa nas intenções. Gosto das relações, sejam elas quais forem, mas que se baseiam em laços, laços que aumentam ou diminuem de tamanho. E mesmo se apertar, consegue afrouxar com mais facilidade.


Rejeito nó. Nas horas vagas eu gosto de criar alguns problemas, às vezes resolve-los. Gosto também de lembrar, a minha memória é um bem precioso. Lembro-me por onde andei, as despedidas, os lugares, as pessoas, altos e baixos. Lembro-me também da morte. E quando é dela que me lembro, eu me sinto invadida por um sentimento de gratidão, por fazer parte dessa grande viagem que é a vida.


Isso por ser uma singela manifestação de toda grandiosidade do universo. Me sinto privilegiada por existir, por estar viva, respirando, assim como você está agora. Neste texto sou linhas, na minha vida sou livre. Sinto-me lisonjeada por poder escrever e mais ainda por saber que você chegou até esse ponto final.


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Fabíola Jardim


Aos 29 anos é bióloga e pedagoga, professora na rede pública de ensino e pós-graduanda de Gestão Escolar, pois acredita que só a Educação construirá uma sociedade mais humana. Feminista, intensa nas intenções e apaixonada pela vida, gosta de cozinhar e estar ao lado das pessoas que ama. Por isso adora passar horas filosofando com o namorado. Tem três gatinhas lindas, a Catu, a Batminha e a Nina, suas paixões. Coleciona muitas histórias e lembranças. Mas vive abraçada com a esperança.


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