MARIA CLARKE!
- Lilis | Linhas Livres
- 8 de jan. de 2019
- 4 min de leitura
Fotos de Pâmela Ramos

Eram 5h da manhã de um dia frio de julho quando nasci, num sítio próximo à Coronel Macedo (SP). Era pequena e frágil, resultado do parto complicado que minha mãe teve, em casa, e que resultou na sua internação, por mais de um mês. Fiquei com uma "ama de leite", como diziam.
Mas apesar disso, deu tudo certo e eu cresci na roça. Para ir à escola, com sete anos de idade, tinha que andar cinco quilômetros de ida e outros cinco para voltar para casa, além de levar uma marmita como lanche pois, meu pai nunca me dava dinheiro, embora tivesse, não sabia administrá-lo e não gastava com a família.
Ele gastava muito do que tinha com jogos e mulheres, e batia muito na minha mãe. Uma vez, eu me lembro, ele bateu tanto na minha mãe que fui tentar ajuda-la, mas fui jogada longe. Acertei a cabeça em uma árvore de cedro e fiquei lá desmaiada por um tempo. E como aquela garotinha frágil sofreu!
Quando chegava da escola ia trabalhar na roça, muitas vezes nem conseguia segurar a enxada ou a foice, chorava de cansaço. Eu não tinha tempo para brincar e, muito menos, um brinquedo. Porém, desde o meu ingresso na escola alimentei um sonho: ser jornalista, repórter, mostrar e contar as histórias das pessoas.
Meus amigos, e até minhas seis irmãs, sempre riram de mim quando falava desse sonho. Mas eu era tinhosa, sempre gostei de ler e estudar. Uma vez li todos os livros da biblioteca local, o que mais gostei foi do "O crime do Padre Amaro", de Eça de Queiroz (1875). Ler era divertido e me distraia.
Eu perdi a infância, é verdade, não tive tempo de brincar e sonhei em ter uma boneca por muito tempo, só ganhei quando tinha 12 anos. Infelizmente, naquele momento, já não achava muita graça brincar e também já não tinha mais tempo para isso, pois precisava trabalhar e estudar.
Um dia fui embora do sítio, mudei para Itaporanga (SP), bem próximo de onde nasci. Comecei a trabalhar de empregada doméstica, estudava à noite. Como não tinha tempo para me dedicar às provas, por isso me empenhava nas madrugadas. Quando completei 16 anos me apaixonei pela primeira vez.
Mas meu namorado morreu em um acidente de carro. Fiquei tão triste que resolvi me mudar e vir embora para Sorocaba, ainda em São Paulo, e onde estou até hoje. Chegando aqui arrumei emprego em uma fábrica, porque não aguentava mais trabalhar de doméstica, apanhar dos filhos das patroas, tomar banho de bacia e suportar as baratas voando por cima de mim quando dormia em um quartinho de empregada.
Quando terminei o Ensino Médio fui para São Paulo, capital, fazer faculdade de jornalismo. Morei lá por oito anos e tive que desistir da graduação, pois não tinha condições financeiras para prosseguir. Não existia bolsas de estudos naquela época, ainda em 1995.
Lembro-me que chorei muito, pois estava deixando para trás o meu sonho. Mas trabalhei lá, conheci um rapaz, Rogério, e me apaixonei por ele. Mas tive que voltar para Sorocaba porque minha mãe adoeceu. Já em Sorocaba novamente, me casei com Rogério construí minha família. Mas o sonho ainda não tinha morrido, porém, como precisava trabalhar, fiz um concurso para auxiliar de educação na rede municipal de ensino e passei.
Comecei a trabalhar em creche e me apaixonei pelas crianças, afinal tinha acabado de ter um filho, o Douglas, após 4 anos de casamento. Como estava gostando tanto de criança, resolvi entrar no curso de pedagogia. Fiz o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e consegui nota máxima na redação.
Felizmente isso me garantiu bolsa integral e não precisei pagar pelos quatro anos de faculdade. Me formei e fiz uma pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas. Também fiz um curso de rádio e locução, aprendi a dirigir, coisa que nunca imaginava fazer um dia. Mas ainda assim sentia que me faltava algo.
Já com 47 anos conheci um professor incrível, o Fernando Negrão, no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), que me incentivou a fazer a faculdade de jornalismo. Então resolvi me aventurar em 2017, aos 48 anos de idade. Atualmente, estou no segundo ano.
Quando estou cansada, pensando em desistir, achando que não aguento mais o cansaço e a correria do dia a dia, recebo o amor, carinho e incentivo das pessoas que mais amo, minha família. O pessoal da faculdade é jovem, mas eu não me intimido. Apesar dos meus 49 anos, nunca me senti tão jovem, tão feliz e cheia de vida, entusiasma e apaixonada pela vida, com mais um sonho, talvez o maior deles, realizado.
Como é bom saber e sentir que o jornalismo está nas minhas veias, é mais forte que eu, quando vejo ou ouço uma história, já quero escrever, é muito extasiante. Pois das dificuldades, me fiz resistente. Meu nome é Maria Maia da Cruz Clarke, mais conhecida como Maria Clarke, sou mulher, mãe, jornalista e editora da página no Facebook Sorocaba Plural - Jornalismo Cidadão, além de uma pessoa feliz.
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Maria Clarke
Sou uma mulher apaixonada pela vida. Tenho 49 anos e posso dizer que minha jornada até aqui não foi fácil, mas fui recompensada. Há 18 anos sou casada com um cara maravilhoso, Rogério, e juntos temos o Douglas, de 14 anos. Além da minha família, outro presente que Deus me deu foi meus alunos, por isso sou pedagoga há 14 anos. Porém, tenho uma vida dedicada aos estudos, nunca me deixei abater, e motivada a ajudar os outros, sou graduanda em Jornalismo (pela Uniso) e jornalista voluntária nas páginas Sorocaba Plural - Jornalismo Cidadão e a da Igreja Quadrangular São Camilo Sorocaba, ambas no Facebook. Ah, antes de tudo, sou grata e feliz.
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