FOTOGRAFIA, dos primeiros vestígios à arte contemporânea!
- Lilis | Linhas Livres
- 28 de jun. de 2018
- 7 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Por Pâmela Ramos
Fotos (1) Sebastião Salgado. Galeria (A) Henri Cartier Bresson, (B) George Brassai, (C) André Kertész. Fotos (2, 3, 4 e 5) Arquivo Pessoal. Vídeos (1) Galeria Jeu de Paume Concorde, (2) Imovision.

A fotografia não é apenas uma representação do real, mas também um marco histórico que desencadeou inúmeras outras maneiras de fazer arte e representar a vida, seja ela na pintura - que no começo foi muito utilizada para captar traços mais reais de pessoas e paisagens -, ou o que atualmente conhecemos como cinema. O fato é que, diante de tantas amplificações dessa tecnologia, o registro de imagens está no papel, televisão, câmeras fotográficas digitais e até mesmo no celular.
Sendo um marco da Ciência Óptica, a primeira fotografia registrada com uma câmera obscura foi em 1826, pelo inventor frânces Joseph Nicéphore Niépce. Porém, as imagens ainda eram de baixa qualidade, o que foi adaptada posteriormente por Louis Jacques Mandé Daguerre e depois, ainda, por William Henry Fox Talbot. A Fotografia com filme colorido só passou a ser possível em 1862 pelo físico matemático James Clerk Maxwell, que testou o registro usando extrato de batata para captação e fixação da imagem.
A partir de 1888, o acesso à fotografia ampliou-se à população. Foi quando George Eastman criou o filme em rolo, possibilitando a toda e quaisquer pessoas obter seus registros, fossem eles pessoais ou profissionais. O que também foi um marco positivo para as áreas de comunicação, como para a Publicidade e Propaganda ou até mesmo ao Jornalismo. Com essas possibilidades, muitos conceitos e definições a respeito da imagem fotográfica surgiram, desencadeando a ideia de que a fotografia, além de documentar os fatos, também pode ser considerada arte, dependendo apenas da habilidade de captação poética do fotógrafo.
"Fotografar é colocar na mesma mira a cabeça, o olho e o coração", definiu Henri Cartier-Bresson, um dos pioneiros na fotografia e no fotojornalismo, que marcou história com seus registros urbanos com cunho artístico ao retratar o cotidiano.
Junto a ele, outros fotógrafos também se destacaram, como o frânces Daniel Boudinet (1945-1990), famoso pela fotografia feita com a câmera Polaroid*, em 1979, em um perfeito contraste de luz e sombra que emana da janela por entre a cortina. O Húngaro André Kertész (1894-1985), também referência nos estudos do fotojornalismo, fez história com suas marcantes composições fotográficas, as quais também se notam como traço artístico na imagem. Já o fotógrafo George Brassai (1899- 1984) ainda encanta com seu olhar fotográfico das paisagens escuras de uma Paris registrada durante a noite (Coleção fotográfica “Paris de Nuit”, 1933), sendo considerado um dos fotógrafos mais conceituados da alta sociedade francesa.
Brasileiro
No Brasil, faz história o mineiro Sebastião Salgado (1944 – 74 anos), que obteve destaque mundial com seus registros - nos quais a realidade é escancarada e o fotojornalismo extremamente presente -, sendo referência ao retratar as raízes da humanidade e do mundo, tornando-se o primeiro brasileiro a entrar para a Academia de Belas Artes Francesas. Suas obras vão de retratos humanos, fotografia de conflitos à natureza e animais. Fotografando cada esfera possível que há no mundo, Salgado superou os limites de enquadramento e esteve em lugares perigosos, possuindo atualmente um acervo de inúmeros trabalhos fotográficos de grande qualidade.

Na atualidade, não há grande diferença da importância da fotografia comparada à época de seu advento. A comunicação visual continua sendo essencial, as lembranças que guarda-se a partir delas, o entretenimento ou recebimento de informações, as obras fotográficas artísticas... Em A obra de arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica, publicado em 1955, Walter Benjamin já trazia a noção da importância da imagem fotográfica, estudo que até nos dias atuais é utilizado para interpretação do fenômeno.
“Pela primeira vez no processo de reprodução da imagem, a mão foi liberada das responsabilidades artísticas mais importantes, que agora cabiam unicamente ao olho. Como o orno apreende mais depressa do que a mão desenha, o processo de reprodução das imagens experimentou tal aceleração que começou a situar-se no mesmo nível que a palavra oral. Se o jornal ilustrado estava contido virtualmente na litografia, o cinema falado estava contido virtualmente na fotografia”. BENJAMIN, Walter. 1955, A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. pg.1.
Contudo, a fotografia não é apenas exclusividade dos profissionais de comunicação e mídia. Atualmente todos os aparelhos de celulares possuem câmera digital, ampliando cada vez mais a utilidade da fotografia e registrando momentos e lembranças familiares e pessoais. Dessa forma, nota-se que há um grande significado e afeto ao guardar recordações por imagens. Em um estudo sobre fotografias memorialísticas, da tese de doutorado de Camila Lopes Garcia, intitulado Narrador Escafandrista: Um estudo sobre fotografia e rememoração na cultura das redes, lançado em 2016, ela traça aspectos sobre a fotografia doméstica que passa dos álbuns de memória para o armazenamento na rede virtual. Diante disso ela capta o significado que tais fotografias remetem as pessoas, e afirma:
“Tais imagens que surgem, vão-se como palavras ao vento, mas que ainda assim, mesmo que imateriais e brevemente incorporadas em telas luminosas, são carregadas de forte potencial mnemônico, fazendo delas relevantes dispositivos de memória e de identidade pessoal. Desse modo, pode-se dizer que a narrativa memorialística fomentada pelas fotografias – digitais ou analógicas – carrega como questão nuclear a linguagem poética da memória, caracterizada por sua não linearidade no tempo (Kairós) e pela presença de lacunas, que não são exatamente o esquecimento completo, mas espaços a serem preenchidos pelo poder criativo da imaginação”. GARCIA, Camila Lopes, 2016. Narrador Escafandrista: Um estudo sobre fotografia e rememoração na cultura das redes. pg. 12.
A fotografia foi o inicio de tudo o que conhecemos atualmente por imagem tecnológica, as técnicas e qualidades evoluíram, permitindo amplas possibilidades de registro em diferentes modos. Do passado para o presente, as pessoas continuam usando desse recurso e apreciam tal tecnologia. Porém, esse movimento social pró-tecnologia promove inúmeras reflexões, como a de Sebastião Salgado, feita em 2016 para a revista Istoé. Na entrevista, ele alerta sobre a possibilidade da fotografia ser extinta daqui a 20, 30 anos, caso o comportamento humano, de armazená-la somente em nuvens, não seja alterado. Desta forma, notamos uma carência social diante da nova forma de fotografar, que por vezes acaba se perdendo dentre as infinitas maneiras de captação e propagação atuais. Mas vale lembrar que a essência da fotografia prospera, só é preciso olhar, observar e contemplar as imagens captadas com o rigor da paixão pelo registro.
*Polaroid
Polaroid é um modelo de câmera que produz fotos com filme instantâneo, ou seja, ao fotografar a imagem é automaticamente revelada. Este modelo é o primeiro da história, criado por Edwin Herbert Land em 1937 e disponível no mercado em 1948, pela Polaroid Colaboration. Atualmente, as câmeras fotográficas instantâneas são chamadas de Pogo, contendo a possibilidade de escolher a foto que se quer revelar.

André Kertész - (1894-1985)
Graças a um manual encontrado no sótão, o húngaro André Kertész conheceu a fotografia. Estudou na Academia de Comércio e se graduou em 1912. Somente em 1913 conseguiu comprar uma câmera com o esforço de seu trabalho na Budapest Stock Exchange e a partir dali passou a fotografar paisagens e vizinhos. Alistou-se para o exercito durante a Revolução Húngara de 1919. Em 1925 passou a morar em Paris e começou a fotografar para revistas francesas. Fez exposições individuais e coletivas. Após ir residir em Nova York durante a segunda Guerra Mundial (1939-1945), seu trabalho não recebeu grande conhecimento e somente após a sua morte, em 1985, suas obras obtiveram sucesso.
Daniel Boudinet (1945-1990)
Iniciou a carreira no final dos anos 60, época em que o filme em preto e branco estava em alta. Daniel Boudinet explorava fotografias usando filme colorido em imagens de paisagens e arquitetura (veja vídeo acima). Francês, ficou conhecido quando o semiólogo e teórico Roland Barthes passou a analisar seu trabalho intitulado Polaroid, em A Câmera Clara, publicado em 1979. Foi um dos primeiros fotógrafos que revolucionou a fotografia como arte e não apenas fotojornalismo. Faleceu em 1990 e seu trabalho se mantém exposto atualmente no Médiateca francesa de l'architecture et du patrimoine.

George Brassai (1899-1984)
Conhecido como Brassari, o fotógrafo Gyula Halasz usa o nome artístico em 1925 como uma homenagem a sua cidade natal Brasov, Romênia. Nasceu em 1899 e em 1917 se matriculou na Academia de Belas Artes de Budapeste. Começou a carreira trabalhando como jornalista pois o que mais gostava na profissão era a curiosidade e olhar atento a tudo. Viu Paris pela primeira vez aos cinco anos, quando seu pai lhe apresentou. A fotografia surgiu em sua vida quando recebeu o convite pela Galeria Minotaure para fotografar estúdios de arte, e desde então conheceu grandes artistas e recebia convites para trabalhos fotográficos, foi enviado a diversos países, mas suas obras mais famosas são os registros delicados de Paris durante a noite. Foi casado com Gilberte Brassai a partir de 1948 e faleceu em 1984.

Henri Cartier-Bresson (1908-2004)
Considerado como o pai do Fotojornalismo, o fotógrafo Henri Cartier-Bresson foi também escultor e pintor. Para ele a fotografia era uma forma de pintar, como um desenho instantâneo. Nasceu em 1908, na França. Durante a Segunda Guerra, serviu ao exercito Francês, trabalhando com filmagem e fotografia. Foi capturado pelo Exercito alemão e mantido prisioneiro por 35 meses, até conseguir escapar e voltar à França. Ao regressar, participou do documentário Le Retour, sobre os prisioneiros da guerra. Bresson parou de fotografar em 1975 e passou a se dedicar somente à pintura. Com sua esposa Martine Frank, fundou a fundação Henri Cartier-Bresson, onde seus trabalhos ainda são expostos, e em 2004 veio a falecer.
Sebastião Salgado
Brasileiro, Sebastião Salgado estudou economia na Universidade de São Paulo (USP), e realizou doutorado pela Université de Paris. Seu primeiro contato com a fotografia foi por causa da sua esposa, Lélia Wanick Salgado, Arquiteta e Urbanista, que lhe apresentou a câmera fotográfica. Entre 1971 e 1973, enquanto trabalhava na Organização Internacional do Café, em Londres (UK), teve a oportunidade de viajar para a África, pois na época era coordenador de um projeto sobre a cultura do Café na Angola, e a partir dessa viagem decidiu se tornar fotógrafo. Registrou cenários caóticos políticos e sociais na Europa e África. Documentou a vida de índios e camponeses pela América Latina e registrou, juntamente ao grupo francês de Médicos sem Fronteiras, as condições em que a África se encontrava na década de 1980, além da devastação pela seca. A partir de 1986 de dedicou a fotografar a realidade dos trabalhadores em diversas regiões no mundo. Veja abaixo o trailer do documentário-biográfico Sal da Terra, 2014.
Referências
GARCIA, Camila Lopes, 2016. Narrador Escafandrista: Um estudo sobre fotografia e rememoração na cultura das redes.
BENJAMIN, Walter. 1955, A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Acesso em: três de abril de 2018. Disponível aqui!
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Pâmela Ramos
É um conjunto de histórias e sonhos que tem sua essência na música e na vontade insaciável de registros em textos e imagens. Aspirante à fotógrafa, estudante de Jornalismo, aos 19 anos busca eternizar em palavras o que é invisível ao olhar e à fotografia o que, muitas vezes, não se enxerga. Realiza pesquisa em Fotografia Poética e participa de ações sociais de voluntariado. (Leia mais aqui!) Portfólio aqui! Foto San Paiva | Fotopoesia.
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