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HELENA quer falar! Ouça-a.

  • Foto do escritor: Lilis | Linhas Livres
    Lilis | Linhas Livres
  • 19 de abr. de 2019
  • 6 min de leitura

Atualizado: 12 de jun. de 2019

Por Laura de Aro

Ilustrações de Henn Kim*


a calma branda. no colo do mundo quieto. tenaz e severo. a calma. a alma. a viva vida das coisas vivas. quem está aí? parece que ouvi um barulho agudo. uma pontada viva. quase imbecil. (tóc. tóc. tóc). entra. entra, mas entra devagar. Helena, acenda as luzes, garota! onde está com a cabeça? dentro dos pés. essa era Romeu. há quem acredite! pobrezinho. estava esperando você sair, quando vamos sair? nem sei. (tóc. tóc. tóc.). entra. entra, mas entra devagar.


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foi quando Olívia, a menina dos olhos azuis entrou. ambiente quieto e calado. já faz um tempo. eu já não me lembro mais quantas vezes, eu já morri. é manhã, Helena! Olívia me dizia com aquele sorriso tímido de criança bonita. Helena, olha aqui. tenho que te fazer uma pergunta. diga lá, garota! estava esperando você sair, quando vamos sair? espera Olivia, volta aqui! como foi que aprendi a falar essa língua? é aprender? (tóc. tóc. tóc). entra. entra, mas entra devagar. ninguém apareceu. (tóc. tóc. tóc.). quem está aí? parece que ouvi um barulho agudo. uma pontada viva. quase imbecil. uma dor estrutural. sangrenta.


dolorosamente física. inteira. sufocante. (tóc. tóc. tóc.). quem está aí? abri as janelas. quem sabe um pouco de luz. de calor. oi Therezinha. toda verdinha. comprida. parece uma jiboia em forma de cor. abri as janelas. o sol deitando e beijando os lábios dos lábios dos outros. depois de devorar com as garras. rasgar a carne viva vermelha. em chamas. um sinal. um silêncio. um apito. (piiiiiiii). quem está aí? o barulho crescia. as paredes desabaram. os tentáculos gigantes para todos os lados. cortava o véu. o mel. a força. quase oca. um grito. (ahhhh). era mais um jovem sendo devorado. mais um corpo ensanguentado. atropelado. queimado. berros calados. de um choro sem fim. no entardecer? as cinzas. todas caídas. abandonadas. o sopro calado. mulheres? faltava ar, mas nem por isso. e nem pense nisso. a Vida. a alma. se esfarelou. a morte é o fim? abri as janelas. quem sabe um pouco de luz. de calor. olha brotou. Azaléa-Branca. Olho-preto. a viva vida das coisas vivas. (tóc.tóc.tóc.) entra, mas entra devagar. o infinito é o fim. a liberdade acusada. do olho caído. é o zarolho.


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ei, seu Joaquim, por onde esteve? Helena, tão jovem e tão preguntadeira. segura essa boca, menina. o peito rasgando. o sangue escorrendo pelas beiradas. as cinzas hão de despertar os olhos ocos. ausentes. dos povos. dos povos do ocidente. os ventos levam o póle. a brisa carrega a água. chove lá do outro lado do mundo. do mundo das estrelas. das coisas pequenas. o olho nu. da união não tão estável. Aliás, a calma branda. do sorriso de águas calmas. assistindo tv. o jantar em família. uma explosão. o corpo exposto. imposto. rasgado. velado. o sexo frágil. (fúc. fúc. fúc.) calada. Helena se levantou. olhou ao redor. enclausurada? sufocada? dolorida? a Viva Vida das coisas vivas. Humano. a Humanidade da vida. das coisas vivas. Humano. som. som. som. repete. ué, quem está aí? som. som. som.


óóó seu moço, não repito não. está ouvindo? vou repetir. óóó Isaias, recolhe ali. aquele ali do lado do vaso da cor de abóbora com uva crua. nua. pelada. quase toda peluda. Isaias, fala sério. fale a verdade. qual? de novo essas suas perguntas sem pé nem cabeça. aliás, onde foi que deixei as chaves? Helena! ele exclamou. você sempre perde as chaves e posso as ver, mas não as sentir. Helena então respondeu: eu não posso ver, mas posso sentir. o movimento mudo. do tempo calado. da vida sem tempo. o osso torto. a figa. a cruz torta de sangue. o movimento. move sem querer? o que você quer? nada! nada! João entrou no subsolo. olhou ao redor. tudo escuro. um abismo. está tudo acabado. palpava com as mãos e nada. nada. e ele gritou: NADA! tolo! burrice! loucura! o que é o nada? você ainda está aí? diz que sim. (um estalo no canto do guarda roupa). diz que sim. (outro estalo vindo dos degraus da escada). Helena se levantou. limpou os olhos. o silêncio da cor dos olhos.


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dentro da calma. dura. e veio como um imã. um sopro. vivo e manso. vivo e calado. onde foi que deixei as chaves? a viva vida da vida das coisas vivas. olhar menino. não me lembro exatamente o instante em que se deu. mas o final nunca termina. uma boa palavra. o recomeço cruelmente maravilhoso. o espinho da vida. o que mobiliza. a queimadura rara. a exposição gritante. o véu da felicidade. caindo. girando. atordoando. o profundo tocando a alma e esquecendo os olhos nos olhos dos outros. outros olhos. que penduram a vida. muda. sem voz. sem explicação. sem. um pingo. um desenrolar de palavras sem sentido. e a comunicação? ali. nua. crua. sorridente. generosa. é. alguém sentia aquela língua? quem sabe o inglês e o português. talvez. o espanhol quase torto. quase rouco. mas nada. nada. nada. era os olhos. o brilhante deles. a alma que cabia. que cabe na serena e ardente vida. amor e ódio. a raiva. o vulcão. os vermelhos saindo pelas narinas. o quente da pele. (um suspiro). aquele homem vai vir falar de novo. querer tentar explicar os sinais. pobrezinho.


vamos lá. Helena se levantou. abriu a janela e deixou a luz clarear. mas o que há de bom na vida? por que ninguém fala do sangue que esparrama a alma? da dor que atordoa e mata? do que é e sem mais. nem menos. do necessário e dolorido. é severo. o tempo. presente, passado e futuro. e um ponto de luz. (um suspiro). cansada. Isaias, por favor me ajude a procurar as chaves. e então ele me responde: não Helena, não adianta. sangrenta. pulsante. ofegante. espera. só mais uma respirada para dar fôlego nessa caminhada. o silêncio acalma a dor (do existir). ou pelo menos tenta. uma sugestão e nada mais do que isso. nem por mais um outro e mais outro e mais outro instante. até que caduque as pernas e espete os cabelos brancos. fartos!!! sim!! fartos!! dessa nudez escancarada na pele. crua pele. rugas! João? sim, Helena. você disse rugas? ora! mude de assunto. eu lhe imploro. e desta vez, retornaremos entregues de peito aberto. retornaremos desse eterno diabo que é a vida.


fogo cruel que incendeia a alma. chamas! chamas! estás em chamas! por quem chamas, meu benzinho? não te direi. as súplicas de amor. as súplicas de dor. são sons sem sons. mudos. calados. engasgados nessa existência. noites mal dormidas. febres. coceiras. o riso em falso. um choro calado. o tanto que eu vi. o tanto que compreendi. nada disso importa. onde foi que deixei as chaves? sempre me esqueço. É. as chamas. o fogo ardente. que queima. mata. engasga. agonia. e ficamos assim: sem ar. sem fôlego. sem chão. perdas discretas. perdas secretas? quanta bobagem! falo ou não falo? e lá retornaremos (de novo) desse diabo que é a vida. dessa crosta que liga o ser. o corpo nu. a nudez. o peito. o pelo. a pele. fresca. limpa. pura pele. puta pele. outra vez. outra. outra vez. Ouça o texto narrado aqui!


*Henn Kim é uma ilustradora sul-coreana que desenha imagens conceituais e minimalistas em preto e branco, sempre envolvendo elementos psíquicos comuns ao ser humano. Seus traços pontuam metáforas e expõem, principalmente, a alma feminina.


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Laura de Aro

Essa dor que paira sobre amar os livros vem de muito tempo. Desde pequena lembro dos livros que lia. Lia-os e depois, eu e a minha amiga conversávamos sobre o que gostávamos e não. Sabe, caro leitor, troca de figurinhas? Depois de tardar, como um desabafo da existência, a escrita foi crescendo junto com a leitura. Cada vez mais eu lia e escrevia. A dor dos livros passou, quem sabe quase que um desinteresse vagabundo. A dor da escrita se criou. Entendo que escrever é criar e, por meio desta arte, poder expressar o que paira no ar. Se em dias de angústia foi desabafo, hoje não posso dizer o mesmo. Meu nome é Laura, tenho 22 anos. Esse ano me formo! Quase ia me esquecendo, sou Psicóloga, prazer. (Leia mais aqui!) @ldagalera no Instagram. Foto San Paiva | Fotopoesia


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