INFÂNCIA escrita à mão!
- Lilis | Linhas Livres
- 12 de out. de 2018
- 4 min de leitura
Por Pâmela Ramos
Fotos Pâmela Ramos e arquivo pessoal
Há dez anos.
São quase 23h e ao meu olhar, vejo luzes dos postes de energia da cidade, as janelas das casas e prédios com as lâmpadas acesas e, acima de mim, a luz reluz seu brilho, junto a poucas estrelas presentes no céu um tanto nublado. A cidade me consome.

Com apenas dez anos tudo o que eu queria era ganhar o mundo. Ser reconhecida pelo o que amo fazer, ter histórias para contar, viagens para todos os lugares e um amor verdadeiro. Sonhar é a parte principal quando se fala da infância, pois nela, tudo parece possível, os horizontes estão abertos a todo e qualquer desejo.
Em minha infância eu fui muito sonhadora, tinha uma aproximação com as artes e queria poder escrever músicas. Estudei em uma escola pública em período integral da primeira à quarta série. Pela manhã aprendia assuntos ligados às ciências humanas e exatas.
Já no período da tarde, aprendia produção de textos, literatura, dança, teatro e pintura. Brincar na rua era comum na Zona Norte de Sorocaba (SP), onde nasci e cresci. Todas as crianças saíam para brincar de boneca, jogar bola, pique esconde, pega-pega, entre outras brincadeiras.
Quando eu voltava com o joelho ralado ou qualquer outro machucado, minha mãe não ficava surpresa. A não ser uma vez em que fui atropelada andando de patinete. Por sorte não houve nenhuma fratura. Minha mãe sempre me dizia que eu era uma criança de muitos amigos, só não sabia escolhe-los muito bem.
Era agitada e sempre me metia em aventuras, contudo eram mais frequentes quando eu ia à casa dos meus avós, em Itapetininga (SP). Passar o dia e noite brincando no sítio dos meus avós era uma sensação de liberdade que a cidade urbana não proporcionava.

Ter quilômetros de chão de terra vermelha, pasto e grama para correr, frutas para colher das árvores, açude para nadar, torna-se um espaço único e perfeito para viver a infância. Depois de brincar o dia todo, eu voltava para a casa da minha avó, lavava os pés antes de entrar e, de vez em quando, ia com minha prima na plantação de milho ao lado, colher alguns para assar no fogão a lenha.
Os que tinham um cabelo maior (estigma) eram feitos boneca. O cheiro do milho verde assado, um tanto torrado devido à exposição do calor, emana nas lembranças de minha infância, além do café preto que meu avô tanto gosta e que, em todas as manhãs e tardes, coava para se servir.

O que mais tem na minha família, são crianças. Meus avós maternos tiveram dez filhos e isso resultou atualmente em diversos netos e bisnetos. Quando volto ao sítio, vejo meus primos correrem e brincarem pelos campos e lembro-me de cada detalhe em que lá vivi e que agora uma nova geração da família aproveita.
A infância distante de Internet, celulares e tecnologias é aquela em que traz um aspecto novo ao me distanciar do que tanto nos prende atualmente. Às vezes, no caminho de volta para casa, depois de um dia cansativo, me pego pensando nas sensações que ficaram na memória.

O medo ao andar a cavalo pela primeira vez, o cansaço ao pedalar pelos arredores do sítio com a bicicleta do meu avô e que estava um tanto emperrada, e a imensidão do céu, tanto de dia quanto à noite. Do vento que batia no rosto, enquanto eu e minha prima tentávamos subir no caminhão deixado por caminhoneiros durante a noite, próximo do sítio. (Na foto ao lado, Pâmela entre a tia Silvia e a mãe, Shirley).
Lembro-me que ao subirmos, parávamos para olhar as estrelas e imaginávamos desenhos. E o mais legal de tudo era pelo quê meus pais sempre acabavam brigando comigo depois: o tirar os sapatos no dia de chuva e subir o barranco fingindo estar escalando uma montanha.
Histórias e lembranças que compõem uma vida. Penso que o Dia das Crianças não é apenas para os pequenos, mas sim para todos os que também já os foram. Pois independente do quanto tenhamos esquecido dos detalhes já vividos, há uma criança no interior de cada um que nunca se foi.

Ela nos permite olhar o mundo com mais calma e gentileza, nos guia nas decisões que fazemos com o coração e nos arranca sorrisos quando tudo parece dor. Ser criança é sentir o universo inteiro dentro de si e saber que é capaz de conquistar sonhos, além de viver aventuras incríveis que, por fim, lhe transformarão num adulto bacana. (Na foto ao lado, Pâmela com 2 anos)

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Pâmela Ramos
É um conjunto de histórias e sonhos que tem sua essência na música e na vontade insaciável de registros em textos e imagens. Aspirante à fotógrafa, estudante de Jornalismo, aos 19 anos busca eternizar em palavras o que é invisível ao olhar e à fotografia o que, muitas vezes, não se enxerga. Realiza pesquisa em Fotografia Poética e participa de ações sociais de voluntariado. Portfólio aqui!
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