IVANIRA MATIAS
- Lilis | Linhas Livres
- 5 de jan. de 2018
- 6 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Fotos San Paiva ! Fotopoesia

Para falar quem realmente eu sou ou quem sou eu preciso voltar ao ventre de minha mãe e também falar um pouquinho dela e de meu pai. Filha primogênita de uma família de 14 irmãos, minha mãe era a princesinha de meu avô. Linda dos olhos castanhos, cabelos lisos e compridos, corpo de violão. Uma mulher encantadora e apaixonada pelo meu pai. Um homem simples, apaixonado por vaquejada - considerado o melhor vaqueiro da região -, não tinha boi que sumisse que ele não encontrasse, mesmo que para isso ficassem três dias no meio do mato. Sem o boi fujão, ele não voltava.
Minha mãe suspirava quando via seu amado chegando montado em um belo cavalo e puxando o boi pela corda. Seu nome? Severino Matias, ou, simplesmente, Tibiu, o domador de cavalos. Como era um homem bonito e cheio de artimanhas, carregava consigo um saco de amores. Meus pais tiveram cinco filhos, sou a primeira filha mulher. Quando minha mãe ficou grávida pela segunda vez, meu pai falou que se fosse uma menina ele daria o nome. Minha mãe, como sempre passiva, concordou sem nada perguntar.
Os dias foram-se passando e a hora de dar a luz também. Uma bela tarde minha mãe estava varrendo o quintal, era uma casinha simples típica de fazenda antiga, branca, com portas azuis. Ela limpava o quintal todos os dias devido às folhas das árvores que caíam secas no chão, pois era início de primavera. Segundo os relatos de dona Lourdes (minha mãe), de repente a bolsa estourou. Ela chamou a vizinha, que nesse dia tinha ido visitá-la, penso eu que foi um anjo quem a enviou. Foi tudo muito rápido, não existia hospital por perto, e seria uma longa viagem até a maternidade mais próxima.
Tudo que dona Lourdes não tinha mais era esse tempo. Nasci entre 17h50 e 18h30, nem dia, nem muito noite, pelas mãos de uma parteira, como costuma falar o pessoal de minha terra natal. Logo que meu pai me viu exclamou: “Ivanira, seu nome é Ivanira!” Só depois de muitos anos é que minha mãe descobriu que o nome Ivanira surgiu de uma antiga paquera de meu pai.
Ivanira Matias, ou, simplesmente, Nira, como muitos me chamam. Tenho 39 anos de idade, sou casada há 16 anos com um cara mais que especial, tenho uma filha encantadora e uma cachorrinha ligada 24 horas nos 220v. Curso o último ano de Fisioterapia e pretendo especializar-me em geriatria. Sou caseira, adoro um bom filme na companhia da família. Meu marido fala que sou antissocial, mas não acredito que seja isso. Tenho mania de limpeza; barulho e cheiro muito forte irritam-me; gosto de ler em ônibus e no parque. Adoro viajar para lugares que ainda não conheço, amo uma boa prosa e sou viciada em café servido em xícara, remete-me a aconchego.
Sou extremamente protetora, ansiosa, compulsiva e organizada ao extremo, desde que essa organização não seja com papel. Também sou impulsiva, autoritária, penso sempre pelas linhas periféricas. Não consigo imaginar pessoas precisando de ajuda e não fazer nada. Sou católica, gosto de ir à missa todos os domingos, não como rotina, mas para sentir a presença do Senhor Jesus, meu Salvador.
Saí da casa de meus pais aos 16 anos para estudar na capital do Rio Grande do Norte, Natal. Meus pais só concordaram com isso porque fui morar com uma grande amiga e também porque a capital era praticamente ao lado de nossa casa. Além do mais, eles sabiam que não iriam ter sossego, caso não me deixassem partir. Atrevida e sem meio-termo com as palavras, falava o que pensava.
Quando dei o meu primeiro beijo, já estava com quase 16 anos de idade. Meu negócio até então era brincar, jogar queimada nas ruas, andar de bicicleta, correr e correr; correr acalmava-me. Minha mãe ficava louca com aquilo, dizia: “Onde se viu uma moça correndo, assim, pela rua?”. Para que eu mudasse um pouco meu comportamento e passasse a ser um pouco mais responsável, e menos criança, ela resolveu deixar-me estudar na capital. A partir dali, eu ganhei um mundo desconhecido, pronto para explorar.
Pois veja, morava em uma cidade pequena, com pouco menos de cinco mil habitantes, que já estava pequena demais para mim. Todo mundo conhecia todo mundo. Fui morar em Natal (RN) para cursar o Ensino Médio, antigo 2° grau. Antes de completar 17 anos, fui pedida em casamento pelo meu primeiro namorado, o primeiro namorado não foi o primeiro garoto que beijei, ainda bem que beijei outros. Meu primeiro beijo foi horrível, só beijei para ele deixar-me em paz, depois, saí correndo para jogar bola na rua.
Quanto à pergunta, de casar com 16 para 17 anos de idade? É claro que respondi não! Ele queria, os pais dele queriam, os amigos queriam, até meus pais queriam, mas não eu. Ainda tinha um mundo inteiro para descobrir, não ia ser o primeiro namorado que iria parar com minhas aventuras. E quanto a brincar na rua, jogar bola, queimada, subir em pé de árvore, andar de bicicleta? Como iria ficar minha vida depois de casada? Desculpe-me as sonhadoras de plantão, mas casamento e filhos nunca foram sonhos para mim.
Natal ficava a 40 minutos da cidade em que meus pais moravam e residem até hoje. Todo final de semana, eu estava em casa com minha família fazendo o que mais gostava, brincar na rua. Além disso, foram aparecendo novos amores e no final de cada ano letivo surgiam novas expectativas.
Comecei a conhecer a capital de fato, saía à noite, ia para grandes shows, como de Zé Ramalho e muitos outros, e foi tudo simplesmente inesquecível. De repente, já estava com 18 anos, cheia de sonhos e planos para o futuro. Natal começou a ficar pequena também, já não sentia o friozinho na barriga quando saía para visitar alguns lugares, tudo aquilo já estava se tornado familiar demais.
Para passar o tédio, saía com minhas amigas para conhecer as praias mais distantes, porém, Ponta Negra era a minha favorita, essa era “o caminho da roça”, como costumava dizer quando um lugar virava rotina. Em Ponta Negra, eu não precisava de dinheiro, apenas dois passes-estudante e 5 reais para comprar um picolé e uma água de coco. Pronto! O passeio acontecia. Conheci praias de norte a sul do litoral riograndense. Era apaixonada por praia, quanto mais saía para conhecer novas praias, mais vontade eu tinha de ir em outras. Infelizmente, minha condição financeira não me permitia viajar para conhecer outras praias fora de meu Estado.
Concluí o Ensino Médio com 21 anos - com essa idade, muitos jovens estavam concluindo a faculdade. Porém, isso nunca foi problema para mim, pois sempre tive fome de conhecimento, de querer e querer aprender cada vez mais. Faculdade era apenas um degrau que eu pretendia subir logo após o término do Ensino Médio. Comecei a estudar com 10 anos de idade. Devido à profissão de meu pai, mudávamos muito de casa nem sempre tinha escola por perto. Nunca reprovei de ano letivo, quanto mais eu estudava, mais necessidade eu sentia de estudar. Talvez, por ter mais dificuldades que os demais alunos.
Os livros fascinavam-me, aliás, fascinam-me até hoje. Sonhava em ser professora de educação infantil, por isso concluí o Ensino Médio em magistério – possibilidade que hoje não existe mais -, cheguei a estagiar em uma escola municipal. Foi bem difícil, era uma escola onde a maioria dos alunos era órfã, ou crianças que passaram por algum tipo de violência.
Apesar da pouca experiência, minha avaliação no estágio sempre foi máxima, com direto a “parabéns” dos orientadores. Saí convicta de que iria fazer cursinho para prestar vestibular na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, queria cursar Pedagogia. Mas novos sonhos surgiram e, com eles, novas histórias, que as contarei aqui em outra oportunidade!
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Ivanira Matias
Ou, simplesmente, Nira, tem 39 anos, casada há 16 com um cara mais que especial, é mãe da encantadora Luanda e tem uma cachorrinha chamada Amora. Estudante de fisioterapia, pretende especializar-se em geriatria. Caseira, adora um bom filme na companhia da família. Gosta de desafios e de uma boa prosa.
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Maravilhoso