LILIAN PRADO
- Lilis | Linhas Livres
- 5 de jan. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Fotos San Paiva | Fotopoesia

Quando criança, sonhava em ser veterinária ou cursar Letras, admirava a língua inglesa. Certo dia, participei de um bingo solidário e ganhei um curso de inglês. Porém, tinha de pagar o material didático e, na época, eu não tinha condições financeiras, então, não pude estudar. Adoro esporte, em especial, gosto do basquete. Gostava de treinar quando era mais nova. Na cidade onde morava, a prática orientada era gratuita e, caso o atleta se destacasse, ele também poderia competir nos jogos regionais. Mas, por falta de apoio da família, não pude concretizar essa vontade. Então, jogava com amigos na rua de casa e na escola.
Aprendi que por meio dos desapontamentos os sonhos crescem. Todos nós temos de tê-los, para conseguirmos realizá-los. Mas aprendi também que precisamos de apoio e perseverança, o que acho que me faltou, principalmente coragem. Deveria ter pensado: “Eu irei e ninguém irá me impedir”. Sempre estudei em escola pública. Minhas disciplinas preferidas eram Português, Inglês, Ciências e Geografia. A mesma professora de Português também ensinava Inglês, e essa professora era maravilhosa, chamava-se Conceição. Ela incentivava os alunos a escreverem versos e poesias. Foi um empurrão para muitos talentos na escola, inclusive para mim.
Foi quando me interessei a ler e escrever, copiar versos no caderno. Inclusive, uma das poesias que escrevi foi para um concurso para alunos da escola. Fiquei classificada em segundo lugar. Lembro-me que isso me fez encher o coração de orgulho e continuar escrevendo. Mas, como sempre, esbarramos nas dificuldades da vida. Uma vez acharam meu caderno de poesia e julgaram-me, achando que eu escrevia para alguém. Recebi a ordem de jogá-lo fora. Na audácia da juventude, fingi que joguei e o escondi em local mais seguro. Tenho guardado o caderno até hoje. Isso me desmotivou, por muito tempo, a continuar escrevendo, confesso. Sentimento que estou retomando.
Gosto de ler, preciso ler. Tenho interesse e busco por assuntos de que gosto. Quando adolescente, a biblioteca era uma das formas de inspiração para a vida e também fuga de uma vida doída, simultaneamente. Às vezes, lendo jornais e copiando versos ou receitas culinárias, passava horas dentro da biblioteca. Agora, com tanta tecnologia, ficou mais fácil acesso à informação, vários conteúdos e livros. Isso tem-me ajudado.
Sempre fui boa ouvinte e guardo segredos de muitas pessoas. Muitos deles foram-me boas lições de vida que as tenho guardadas até hoje. Mas, sobre nós mesmos, percebo que é mais difícil expressar pensamentos e sentimentos. Desde um acontecimento, que conto em outra oportunidade, tenho um bloqueio para expor o que estou sentindo. Então, sou considerada pelos outros como uma pessoa fechada, introvertida; às vezes, penso que por não falar sobre mim as pessoas supõem que sou fria. Mas no meu íntimo acho que não, que não sou assim. Nasci católica. Não sou praticante, mas creio em Deus. E é no silêncio que converso com Ele, peço a proteção ou que cure aquele momento difícil pelo qual passo, dependendo da situação. Agarramo-nos naquilo que cremos, cada um do seu jeito.
Penso sempre que, por meio de muitos desapontamentos, como já disse, há quem pense em desistir de si mesmo. É muito triste isso tudo, infelizmente, só quem já sentiu na pele essa dor sabe como é se sentir incompreendido, julgado e cobrado, sem ter alguém que estenda a mão. Isso é muito comum e infelizmente pouco discutido; um tabu sobre o qual também escreverei em outra oportunidade porque sinto que é importante.
Mas acredito que, se temos um equilíbrio emocional, cuidamos do espiritual e desistimos desses pensamentos. Durante minha vida até hoje, foram muitos acontecimentos difíceis. Um deles foi a minha gravidez, que não foi planejada – embora meu filho tenha sido desejado desde o início. Mas eu a escondi por um tempo de minha família por medo dos julgamentos e pela falta de apoio. Para minha surpresa, aceitaram bem. Não conversavam muito sobre isso, talvez não o quanto eu precisava. Apesar disso, felizmente, no dia 18 de junho de 2000, nasceu meu filho. Prematuro, de parto natural, em hospital público, veio ao mundo pesando 2,120 kg e com 42 cm de comprimento.
Mal sabia eu que a partir dali realmente começaria minha jornada materna, com alívio somente três anos depois, quando ele foi diagnosticado com surdez. Contarei mais sobre esse nosso percurso pelo mundo do silêncio e das descobertas extraordinárias dos outros sentidos em outra oportunidade, quando descreverei as lutas e as alegrias do desenvolvimento de meu filho.
Como todo humano, tenho meus altos e baixos. Mas sinto que sou alegre, gosto de novidades. Adoro viajar, estar com as pessoas de quem gosto. Sou solidária, ajudo de acordo com as minhas possibilidades. Meu lema é fazer o bem sem olhar a quem, sem exposição. De alguma forma, não deixei meu coração endurecer. Acredito que somos todos iguais, independe de classe social, etnia ou religião. Muitos me julgam brava, ainda hoje, pelo jeito fechado, como disse. Mas é que aprendi cedo a ser firme e ainda sou, mas no momento certo, quando preciso ser.
Somos humanos e cada um tem um tipo de personalidade. Uns escondem seus defeitos e até qualidades, porém, sou tão verdadeira, não me acostumo com a ideia de ser o que não sou para agradar os outros e ser aceita. A experiência de vida sempre me possibilitou aprender e ir mudando o jeito de agir e pensar conforme a demanda. Aproximo-me daqueles que dão liberdade. Não sou muito de distribuir sorrisos, mas se quer minha amizade, estou a dispor.
Sou observadora, tolero certas atitudes que considero inoportunas, mas quando percebo aquilo que realmente não me agrada, saio de cena para não ter transtornos futuros. Sempre tive aversão à cor rosa e não era muito fã de personagens infantis clássicos, talvez, por isso, era considerada a moleca da família, mas não me importava. Gosto de dançar todos os ritmos, gosto de músicas boas, mas o ritmo preferido é o rock and roll, principalmente os clássicos, amo!
Sou determinada e sinto-me forte, luto sempre para ser feliz e deixar as mágoas para trás. Não desistir dos sonhos, é outro lema. A vida também me ensinou nas dificuldades que nos fortalecemos contra todos que nos desmotivam ou nos julgam incapazes. Para isso, auxilio-me de uma frase que li, não me recordo o autor: “Ignorar é a melhor forma de se defender da maldade”. Muito prazer, meu nome é Lilian, tenho 38 anos e sou de São Roque (SP). Sou casada com Marcio há 18 anos e temos um filho chamado Daniel, nossa paixão.
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Lilian Prado
Também conhecida por Lilian Carla, tem 38 anos, é casada e mãe de um garoto muito especial, deficiente auditivo. E motivada pelo filho, é estudante da Língua Brasileira de Sinais (Libras), além de colaboradora da comunicação junto da comunidade surda. Gosta de viajar com a família, admira a natureza e uma boa música. Alegre, solidária e responsável, sonha com um mundo melhor, pacífico e acessível.
Lilian também escreveu:
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É um incentivo para novos talentos, quem passa lê os perfis com certeza se identifica em algum momento no textos,viagem,alegrias,infância,família etc.. Li todos simplesmente maravilhoso e emocionante. Parabéns!todos do Blogue.