MARIE CHERVENKOV
- Lilis | Linhas Livres
- 5 de jan. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Fotos San Paiva | Fotopoesia

Nasci em Sorocaba (SP), mais precisamente no bairro do Rosário, no sítio de meu avô materno, Pedro, numa casinha humilde, feita de barro e coberta com sapé. Meu avô Pedro era imigrante vindo da Bulgária, Europa, e minha avó, Natalina, da Rússia, na Euroásia, da qual herdei as características físicas. Sou loira, de olhos azuis e estatura baixa. Mas o meu temperamento herdei da ascendência paterna. Meu avô paterno, José, era descendente de portugueses, e minha avó paterna, Ercília, de alemães. Não tive muito convívio com minha avó paterna, pois ela faleceu aos 48 anos.
Naquela época, as famílias conheciam-se nas festas religiosas e nos trabalhos do campo, e isso se sucedeu por várias gerações. Eu mesma também trabalhei na roça, dos seis aos 13 anos de idade. Estudei na Escola Primária e fui alfabetizada pela “Cartilha Caminho Suave”. Durante os meus quatro anos de estudo, andava 18 quilômetros a pé e descalça para ir à escola. Aos 14 anos, fui para a “cidade” trabalhar, na verdade, na área urbana. Porém, meus pais ficaram ainda por mais tempo no sítio. Eu era tão tímida que quando chegava visita em casa, escondia-me, de tanta vergonha.
Isso dificultou muito a minha vida e a busca por meus sonhos. Se é que eu tinha algum, porque até aquele momento só tinha conhecido o mundinho da roça, nada mais além. Enfrentei muitas dificuldades depois que parti, chorei como se tivesse perdido tudo, fiquei sem chão, sem teto, passei fome e frio. Confesso, hoje sei, que fui uma trabalhadora escrava, mas nunca perdi minha dignidade e a vontade de vencer. Muitas vezes fraquejei, mas o meu amor próprio falou mais alto. Era como se ouvisse a mim mesma dizendo: “Siga em frente, não desanime. Você pode, você consegue”.
E assim fui-me livrando de muitas coisas ruins e aprendendo a defender-me dos malfeitores, fortalecendo-me cada vez mais. Com a maioridade, aos 21 anos, chegou também a maternidade. Nascia a minha primeira filha, Graziela, e também a responsabilidade em ser mãe, o que me ajudou a amadurecer ainda mais. Amei ser mãe e defender a minha cria com unhas e dentes. Um ano e onze meses após, veio a minha segunda filha, Renata, e doze anos depois veio o meu terceiro filho, Steven. Nada foi planejado, tudo aconteceu devagarzinho. Foram muitas responsabilidades, árduas lutas travadas dia a dia, e todas vencidas com dignidade. Felizmente!
Vivi para a família e acredito que, depois que a gente forma uma, nunca mais em vida conseguimos ter um minuto sequer sem preocupações com o desenvolver da história de cada um de nossos entes queridos. Desejando sempre que nossos filhos, netos e toda prole familiar esteja bem, e que a vida de cada um seja saudável e próspera. Assim construí minha história, e, se fosse colocar num livro, iria ultrapassar mil páginas, tenho certeza, contando tudo até o presente momento. Mesmo que não tenha sido como eu queria, já que as coisas tomaram seu rumo e muitos sonhos ficaram para trás, também aconteceram coisas extraordinárias e felizes, como acontece na vida de todos, acredito.
Fui muito abençoada, e ainda sou, graças a Deus. Ele, que sempre esteve do meu lado, restaurando-me em todos os momentos frágeis da vida. Entretanto, esses momentos me tornaram uma pessoa mais ríspida e durona, confesso, porque aprendi a defender-me com as armas que a própria vida ensinou-me - por meio das dificuldades que enfrentei na tal sociedade, numa época em que a mulher tinha de ser submissa e outras coisas mais.
Contrariando esse fato, a generosidade jamais deixou o seu lugarzinho no meu coração. Acredito que todo ser humano leva consigo a base positiva que Deus dá, o que nos ajuda em todos os sentidos e momentos, sejam bons ou ruins. Isso alimenta minha esperança na vida. Posso dizer que, por essas razões, sou família, sou amiga, sou sincera, sou singela, sou sólida, mas também sou maria-mole. Essa sou eu, Marie Chervenkov.
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Confira também, pela mesma autora:
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Marie Chervenkov
Mãe de três filhos, avó de cinco netos, aposentada, mas ativa como profissional liberal. Neta de russo e búlgaro, rígida em suas escolhas e observadora de todos os momentos, tornando-os experiência e aprendizado. Tem 62 anos, é solteira, ama a natureza, música, poesia e a arte como um todo. Sincera, amiga e fraterna, gosta da magia, do encanto e dos detalhes da vida.
Marie também escreveu:
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Um orgulho!!!
Te amo mamãe
💏
Texto emocionante bjs