MARILDA CORRÊA
- Lilis | Linhas Livres
- 5 de jan. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Fotos San Paiva | Fotopoesia

Sou Marilda Aparecida Corrêa, filha de Pedro Corrêa e Maria do Carmo Anselmo Corrêa. Nasci em Sorocaba (SP) e na minha infância colecionei vários amigos que tenho o prazer de tê-los até hoje, como a Neuza, Ciléia, Carlos, Edson, Tânia, Márcia e Shirley. Fui uma criança que passei meus primeiros anos em creche, era a Creche da Sagrada Família, e, quando entrei no primeiro ano do Ensino Fundamental, passei a ficar na casa de minha madrinha, tia Benedita.
Foram dois anos apenas, mas eu recordo-me de estudar no João Clímaco (Escola Estadual João Clímaco de Camargo, na Vila Alvorada), que era próximo da casa dela e, à tarde, minha mãe levava-me para nossa casa, sempre, até o final do segundo ano. Meu pai construiu um cômodo para minha avó Manuela ir morar conosco, e, lá na casa da minha madrinha, eu e meus primos brincávamos muito. Brincadeiras que eram alegres e saudáveis.
Já no quintal de minha casa, com as crianças vizinhas, nossas brincadeiras prediletas eram a de casinha, pois neste quintal tinha animais domésticos como galinhas, cachorros, gatos, além de vários pés de frutas, como abacate, goiaba, banana, mamão, amora, limão-rosa e o pé de manga, que era o nosso favorito por ter um galho onde brincávamos de balança por horas. Era raro brincar na rua. Quando acontecia, era mãe da rua, pega–pega, esconde–esconde, pica-latinha.
Era divertido, não tínhamos quase atritos e quando aconteciam eram apenas nas brincadeiras. Com o passar dos anos, já adolescente, fui estudar em Itapetininga (SP), na Escola Fernando Prestes. Foi um momento difícil, pois pela primeira vez, distanciei-me de minha família. E nesta época minha avó já havia falecido. Por ser filha única, foi complicado. Minha mãe estava passando por momentos difíceis, precisava fazer uma cirurgia. Meu pai trabalhava numa empreiteira, em São Paulo, capital, e vinha para casa apenas nos finais de semana.
Então, por questões de segurança, fui residir com minha tia Maria e descobri o gosto pelo esporte durante minhas aulas de Educação Física. Passei a jogar e treinar voleibol na escola e para o time da cidade. Nesta mesma época, conheci uma menina de sala que se tornaria minha amiga, chamava-se Salete, e treinava atletismo. Ela apresentou-me ao professor Flávio Cipriano, que permitiu que eu treinasse também. Durante algum tempo, participei dos Jogos Regionais representando Itapetininga.
Alguns anos depois retornei para Sorocaba. Na minha adolescência, fiz o primeiro ano do Ensino Médio na Escola Estadual Antônio Padilha, no Centro, onde cursava as aulas no período noturno. Fiz várias amizades com alunos de sala, como a Cibeli, Ditão, Arlinda, que amavam jogar vôlei. Guardo muitas lembranças boas desse período. Mas estudei lá apenas um ano, em seguida comecei a trabalhar e transferi os estudos para escola da OSE, também no centro sorocabano, onde cursei o antigo magistério.
Nesta época, eu trabalhava numa fábrica de confecção chamada Check Point, da Fábrica Santa Rosália, e depois na metalúrgica YKK. Quando me formei, comecei a trabalhar na escola Chácara Viva Vida, que prestava serviços no Palácio da Saúde. Era uma espécie de creche que funcionava para os funcionários que ali trabalhavam. Foi pouco menos de um ano, aproximadamente, oito meses, eu acho.
Então, ingressei na graduação pela Faculdade Ciências e Letras de Sorocaba, onde cursei Geografia. Nesse período de faculdade, passei a trabalhar como professora eventual, próximo de casa, no Centro de Educação Infantil (CEI). Foi quando Regina Lauandi, diretora na época, informou-me sobre o Programa de Formação Inicial e Continuada para Professores da Educação Básica (PROFIC), que a Prefeitura e a Secretaria de Estado desenvolviam, e que atenderia crianças em período integral, sendo uma parceria com professores do estado e estagiários municipais.
Passei então à estagiária da Urbes – Trânsito e Transportes e, na sequência, do Projeto Educar (alfabetização de adultos). Dois anos depois, acabei ingressando como efetiva na Prefeitura de Sorocaba, na área de Educação Infantil. Foram mais de 25 anos, entre outras experiências, na Educação sorocabana. Uma vivência que me possibilitou presenciar fatos e adotar algumas linhas de pensamentos que só me ajudaram a evoluir.
Em um determinado momento de minha vida, passei por um constrangimento que alterou minha jornada. Fui abordada em uma loja da cidade. A funcionária questionou minha presença como suspeita de querer furtar o estabelecimento. Aquilo me chocou e eu fiquei extremamente entristecida. Mas naquele mesmo momento aconteceu algo extraordinário. Olhei para dentro de mim mesma e respondi rapidamente que, sendo eu uma mulher negra concursada e graduada, tinha consciência de que estava sendo discriminada pela minha etnia.
A tomada de consciência e a defesa fizeram-me perceber que a situação era mais grave a maior, e eu não era a única vítima, apesar de não me posicionar dessa forma. Foi então que procurei o senhor Bernardino, um amigo atuante no enfrentamento do preconceito racial, que me levou ao Núcleo de Estudo Afro-brasileiro (Nucab), que funcionava na mesma faculdade que fiz, na época sob a coordenação do professor Jorge Matos e da coordenação adjunta da professora Ana Maria.
Os estudos eram voltados sobre questões políticas da África e Brasil e levaram-me ao aprofundamento prático do assunto. Percebi a relação desse estudo com propostas distribuídas em outros setores, como economia, religiões, história, literatura e, também, na minha área, Geografia. O Nucab ajudou-me muito a compreender o nosso sistema sócio-político atual. E despertou em mim o desejo de conhecer mais questões históricas dos afro-brasileiros no país e no mundo.
Dentro do Nucab também tive o privilégio de desenvolver o projeto Curumim, que visava trabalhar com as crianças afrodescendentes da comunidade, possibilitando então a eles adentrarem em um espaço de estudos de faculdade. Esse projeto consistia em acolher as crianças e estimulá-las a resgatarem a história do povo negro por meio de músicas e artes africanas.
Em seguida, entrei no coral do Movimento de Mulheres Negras (Momunes), no qual permaneci por cinco anos, sempre fazendo apresentações nas escolas. Isso me levou a idealizar - com ajuda da minha amiga, já falecida, Rosângela Alves, de quem escreverei e detalharei a parceria em breve, em outro texto -, o Centro Cultural Quilombinho. Nesta época, nasceu meu filho, João Pedro, que passou a ser a paixão de minha vida. O que me fez refletir ainda mais em ter um espaço mais humanizado e melhor, não só no mundo, mas na sociedade em geral.
Atualmente, é isso que me dá prazer imenso, esses trabalhos voluntários que desenvolvo, além de participar como conselheira municipal do Conselho do Negro, da Educação e da Fundação dos Servidores Públicos, o qual exerço com muito amor. Eu sempre carreguei comigo. Talvez, por ter envergado para a área da Educação, tenha-me aguçado mais a prática da observação e, assim, busco constantemente por mudanças de posturas que foquem na valorização do ser humano, suas histórias e valores.
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Marilda Corrêa
Também conhecida como Dildinha, é filha de dona Carmem e de seu Pedro, além de mãe de João Pedro. É geógrafa, pedagoga e pós-graduada em Turismo Ambiental. Trabalhou 28 anos com ensino público fundamental. Ativista, participa de movimentos sociais populares e atua na sociedade civil organizada por meio de conselhos municipais. Acredita na participação ativa do cidadão para melhorias e mudanças da comunidade.
Marilda também escreveu:
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poderosa!!!!
Que linda!!! Adorei!!! <3