NATALIA GÓMEZ TARGA
- Lilis | Linhas Livres
- 12 de fev. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Fotos Michele Moraes

Eu senti que era gente de verdade quando consegui escrever num caderninho pela primeira vez. Não tinha mais nada no mundo que me encantava mais que aquilo. Era rosado, tinha uns desenhos de bichos e pauta. Era meu. Difícil explicar que tudo mudou conforme eu cresci, mas a essência continuou a mesma. Uma menina ruiva encantada pelo seu poder de escrever. E quantas voltas eu dei pra chegar nisso, quanta procura pra descobrir que eu já era quem eu tinha que ser.
Primeiro eu acreditei que profissão pra quem gosta de escrever era o jornalismo. Mas aí, fui cair no meio de gente que gosta mesmo é de notícia, e nem liga pra texto. Eu ficava desconfiada porque dizer que “escrever é o de menos” não podia ser boa coisa. Só sei que não era pra mim. E lá se foram 12 anos trabalhando na imprensa paulistana. Saindo e entrando em jornalão e agência de notícias parruda, sentindo que não era o meu lugar.
Sou muito sensível, sinto a dor e a alegria do outro com muita facilidade, até quando eu não quero. O ritmo e o ambiente alucinantes de uma redação me deixam angustiada. Pra sobreviver, virava e mexia, precisava criar alguma coisa. Precisava ter blogue, escrever com coração, mexer com palavra simplesmente porque palavra é uma delícia. Brinquei um pouco com a ficção, com o jornalismo literário, mas não percebia ainda que o mais importante era a minha relação com a escrita, independente de rótulo e do estilo. Eu não sabia que eu já era, e sempre seria, uma escritora.
Um dia, chegou a minha vez de ser mãe - de um menino grande chamado Júlio, nome do meu escritor favorito. O barrigão me mandou ir morar no interior do Paraná. Hoje tenho muito verde por perto. Descobri que gosto de morar em casa e de sentir cheiro de terra quando chove. Minha vinda pra Maringá foi um tempo de muita solidão, de descoberta. Foi o meu momento de florescer.
Com a desculpa da distância, fui abandonando o ofício da notícia. Fui deixando de lado a palavra que mais ouvi na vida. Matéria, matéria, matéria. Nome estranho pra reportagem, hoje eu penso. Fui deixando de ser jornalista pra ser quem eu sempre fui. Uma pessoa encantada pela oportunidade de escrever. Aprendi que nada do que vivi foi perdido e talvez eu até seja uma jornalista até o fim. Mas não importa.
Veio mais um menino, Benício, e veio mais aprendizado. Aprendi que gosto de me desenvolver como ser humano, ser mestre em amar o outro, estudiosa do perdão e praticante da gratidão. É daí que vêm e continuarão a vir os meus melhores textos. É daí que têm vindo as melhores leituras.
Meus filhos têm sido meus grandes professores. E todos os que cruzam meu caminho me deixam algo de bom, e eu procuro fazer o mesmo. Se eu pudesse começar de novo - e eu posso, porque cada momento é um recomeço - eu escolho me entregar pra grande verdade que nasceu comigo e me escolheu desde sempre: eu escolho escrever, amar as palavras e deixar que elas me amem de volta.
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Natalia Gómez Targa
É uma escritora que nasceu gostando das palavras e exerceu essa paixão de diferentes formas. Foi jornalista de economia por 14 anos, se especializou em jornalismo literário, teve vários blogues e hoje produz conteúdo para produtos digitais. Livre de rótulos, escreve aqui por puro prazer de escrever e pela alegria de deixar brilhar, pelas palavras, a sua luz interior. Paulistana, tem 34 anos e vive em Maringá (PR) com a sua família desde 2015.
Natalia também escreveu:
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Parabéns Natalia! Sucesso em sua carreira, que todos os seus sonhos se realizem!