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NEUSA ALBUQUERQUE!

  • Foto do escritor: Lilis | Linhas Livres
    Lilis | Linhas Livres
  • 1 de out. de 2018
  • 4 min de leitura

Atualizado: 2 de out. de 2018


Fotos San Paiva


Lembro-me de estar sentada no chão da sala e de ficar vestindo minha boneca com as roupinhas que eu mesma havia feito - minha mãe, Maria, com muita paciência me ensinava a arte de confeccionar roupas para minhas bonecas -; enquanto meu pai, Eloi, ficava sentado no sofá assistindo o noticiário na televisão. Lembro-me também que nas noites quentes de verão, saímos todos para uma caminhada na Marginal, a avenida Dom Aguirre, que estava para ser inaugurada.


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Estávamos eu, minha irmã, Nega, como carinhosamente a chamávamos, a Lúcia, a Márcia, o pequeno Miguel, a Edna e minha mãe, que carregava em seu colo a mais nova, Adriana. Nós, felizes com o passeio, corríamos bem à frente. Caminhávamos por algum tempo até nos depararmos com a igreja de Santa Rosália, no bairro de mesmo nome. Sentávamos nas escadarias e lá ficávamos esperando o nosso pai comprar sorvetes. Ele nos trazia alguns de groselha e outros de abacaxi.


Há tempos felizes que nos deixam uma saudade. É, eu nasci em Sorocaba (SP) e posso dizer que cresci e vivo caminhando junto com o desenvolvimento desta cidade. Estudei no Serviço Social da Indústria (Sesi) – e depois na Escola Estadual Arthur Cyrilo Freire - esta última escola ficava no bairro Santa Rosália. Ambas instituições tradicionais e extremamente associadas à história industrial da cidade. Mas com a morte de meu pai, tudo mudou.


E antes mesmo que pudesse terminar o antigo ginásio, tive de parar de estudar e trabalhar pra ajudar nas despesas da minha casa. De uma garota sonhadora tive que crescer e fui morar e trabalhar de babá numa cidadezinha chamada Pedro de Toledo (SP). Naquela época a famosa Estrada de Ferro Sorocaba (EFS) ainda estava no auge do funcionamento e dividia Pedro de Toledo em duas. De um lado ficavam os hotéis, com restaurantes e o cinema.

Do outro ficava o comércio, com os bancos, a escola e a delegacia. Na verdade, é assim permanece até agora. Em alguns finais de semana íamos à praia de Peruíbe (SP). Saía muito pouco de casa sozinha. Conhecia o mercadinho, a padaria e também a sorveteria. Morria de medo quando tinha que atravessar a linha do trem, por entre os vagões. Que perigo era! Depois de um ano fora de casa, morta de saudade da minha mãe e das minhas irmãs, jurei que nunca mais ficaria longe delas e voltei.


Aos 15 anos, com autorização da minha mãe Maria, comecei a trabalhar numa confecção. Pois veja, Sorocaba era, no início do século passado, a Manchester Paulista – com economia alavancada com a indústria têxtil. Na década de 1970 o declínio no setor se iniciava, mas nos anos 80 ainda haviam várias empresas. E lá estava eu. Mas aos 17, eu e minha família fomos morar em Porto Feliz (SP). E com 19 anos, eu e eles já estávamos de volta a Sorocaba.


Tão logo comecei a namorar, casei. Neste primeiro casamento, com Pedro Machado, tive dois filhos, o Paulo Rogério e a Maíra Gabriela. Naquele tempo mulher era educada para o casamento e, por consequência, para cuidar dos filhos. Eu fui feliz naquele casamento, mas como principal lembrança daquele tempo percebo que vivia meio que numa névoa. Sem ter consciência de mim e meu papel na sociedade. Voltando à trabalhar, com as crianças já crescidas, percebi que precisava ser independente financeiramente para melhorar vários aspectos da vida.


Fui mudando devagar meu jeito de ser e, de garota submissa, tornei-me mulher. Passei a não aceitar mais tudo de cabeça-baixa, principalmente os desmandos daquele que, até em então, era meu marido. Isso favoreceu para que repensasse meu casamento e, por consequência, terminasse com o relacionamento de anos. Casei pela segunda vez, com o Paulo Neto. E sinto que encontrei minha cara metade, um companheiro e parceiro de muitas conquistas.


Juntos construímos nossa casa, com nossas próprias mãos. O tempo passou e aos 48 anos de idade, felizmente, terminei os estudos, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Para mim é meio difícil falar de mim mesma, principalmente porque sei que a vida moldou em mim uma personalidade forte, o chamado “pavio curto”. Sei que sou mandona. Mas confesso que, por outro lado, gosto ter amigos, amo muito conversar e sempre estou preocupada com a minha família e com meus amigos.


Nas horas de descanso, quando tenho um pouco de dinheiro, gosto de acampar. Com o Paulo tive oportunidade de conhecer muitas cidades e fica difícil de mencionar qual delas é minha preferida. Nem consigo contar em meus dedos de quantas delas conheci, cada uma com suas particularidades, pontos turísticos ou mesmo por suas belezas naturais que eram de tirar o fôlego. Temos costume de caminhar, de fazer trilhas, na verdade.

Estar em contato com o mato é uma forma de encontrar com minha origem simples. Gosto de conhecer outras pessoas. Adoro conversar! Por essa razão em cada um dos lugares que visitei fiz questão conhecer alguns de seus moradores. De ter um dedo de prosa e ver que, por vezes, pessoas aparentemente sérias se desmancham facilmente num sorriso.


Por causa disso alimento um sonho de quando me aposentar, comprar um Motorhome e sair por aí, com meu marido. Como diz a música Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, “sem lenço, sem documento...”. Além dos sonhos, a razão da minha felicidade são meus netos, Júlia Marcelly e os gêmeos, Akiles e Benício. Me sinto uma mulher feliz, sinto que Paulo Neto contribui para isso. Gosto de quando estamos conversando e damos boas risadas juntos


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Neusa Albuquerque


Costureira apaixonada pelo ofício e pela vida, é mãe de Paulo e Maíra, além de avó de Júlia e dos gêmeos Akiles e Benício - as crianças são sua fonte de energia. Envolvida com os movimentos sindicais e sociais há oito anos, passa o tempo livre divido entre as visitas à mãe Maria, no sítio em Tapiraí (SP), e o recém-descoberto prazer de escrever. É criadora do grupo Contação de Histórias, resultado de boas conversas (algumas acompanhadas de cerveja) e inúmeras viagens feitas "sem lenço, nem documento". O que mais gosta é sentir a liberdade da brisa beijando o rosto e as coisas fluindo alegremente ao seu redor.


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