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O OBSERVADOR invisível

  • Foto do escritor: Lilis | Linhas Livres
    Lilis | Linhas Livres
  • 10 de abr. de 2018
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de set. de 2018


Por Giulia Vasovino

Imagem Divulgação

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Ninguém jamais se importou com minorias e ele sabia perfeitamente disso. Ao entrar no transporte lotado, fez um tímido sinal da cruz e seguiu a passos firmes até sua dianteira. Olhares o seguiam com curiosidade, repletos de emoções indecifráveis. Antes de dizer qualquer coisa, ele respirou fundo, observando aqueles que o encaravam com desconfiança. Ele sabia que suas roupas não eram atraentes e que sua aparência deixava a desejar, mas não havia nada que pudesse fazer quanto a isso. Já bastavam suas preocupações. Um suspiro escapou por entre seus lábios e ele arriscou uma frase, pedindo humildemente a atenção daqueles que pareciam indiferentes a seu apelo.


Do lado de fora, as pessoas passavam umas pelas outras quase como se não pudessem se ver. Ele as observou por alguns instantes. Talvez elas realmente não pudessem. Ou somente não quisessem. Era fácil encarar um rosto perdido na multidão quando não se imagina o que está por trás dele. Outra inspiração profunda. Ele aumentou o tom de voz, mas não recebeu resposta. Então as imagens vieram à sua mente, tão nítidas quanto a visão que ele tinha naquele momento.


As portas enferrujadas, o chão escorregadio, a janela cuja vista não poderia ser mais desagradável. Mas ele teve de se arriscar ou perderia tudo. Não que não tivesse perdido. O desespero tomou-o quando ele se aproximou, parando no meio do ônibus com olhos de súplica e a voz atingindo o limite. Alguém pareceu escutá-lo. Ele explicou os motivos de estar ali, a precariedade de sua moradia, a obrigação de sustentar sua família e a busca por melhores oportunidades que selou seu destino. O silêncio tomou o transporte público por alguns instantes. As lágrimas começaram a queimar seus olhos quando terminou, entretanto, não as permitiu rolar pelo rosto. Não ali, não naquele momento.

Embora tentasse demonstrar tranquilidade, seu coração palpitava no momento em que a última palavra o deixou. Era um pedido simples. Ele não tinha nada a oferecer, nenhum produto para vender ou bilhete que pudesse tocar o coração de alguém. Tinha somente suas palavras, seus argumentos questionáveis. Em volta, ninguém se moveu, mas continuaram olhando-o como se ele nada tivesse dito. As lágrimas brotaram novamente e ele as engoliu, omitindo a sensação de inutilidade que o preenchia. Se ele tivesse feito mais… Então alguém o chamou, estendendo a mão com alguns trocados. Duas ou três pessoas também o fizeram.


Ele as agradeceu humildemente e então partiu, misturando-se à multidão. Lançou um último olhar para onde estivera antes e guardou o pouco dinheiro no bolso, fitando o terminal repleto de destinos e objetivos. Talvez um dia ele tivesse algum outro propósito. Seus pés tornaram a se mover e ele se aproximou de outro ônibus. Ao entrar no transporte lotado, fez um tímido sinal da cruz e seguiu a passos firmes até sua dianteira.


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Giulia Vasovino


Redatora por profissão e escritora nos tempos livres, encontrou nas palavras a melhor forma de expressão. Aos 21 anos gosta de literatura, música, cinema e uma boa conversa. Observadora por natureza, guarda os pequenos detalhes para si e sonha em um dia trabalhar nas grandes editoras ou, quem sabe, se aventurar fora do país. Ah, e claro, ter uma biblioteca igual à da Fera! Como gosta tanto de dizer, seu coração e sua alma são livres, assim como as linhas que escreve! (Leia mais aqui!) Fotos: Arquivo Pessoal

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