PENSAMENTO crítico, já!
- Lilis | Linhas Livres
- 19 de abr. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
“Ler é, e sempre foi, um ato revolucionário”, Marcia Tiburi
Por Bruna Camargo
Fotos AISMetal

Com vestimenta enlutada e jeito tímido, Marcia Tiburi parecia querer apenas aproveitar a oportunidade para divulgar seu último livro "Feminismo em Comum" (Ed. Rosa dos Ventos, 2018), lançado no último dia 10 de abril, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), em Sorocaba (SP). Mas assim que a filósofa, professora e escritora pegou o microfone, mostrou a que veio, ministrando uma grande aula de filosofia aos mais de 300 inscritos presentes.
Na ocasião, a escritora foi precedida por uma apresentação do grupo de maracatu feminista Baque Mulher que, em aproximadamente 30 minutos, entoou loas e fez tremer o auditório com os instrumentos de percussão, dando o tom da reflexão a ser proposta em seguida sobre o crítico momento atual do país.
“Estamos em uma situação péssima, mas ainda acho que temos chances”, comentou, sem deixar passar em branco uma breve discussão sobre a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Precisamos constatar e analisar a conjuntura; precisamos provocar pensamentos para sair desse estado de letargia”, afirmou.
A filósofa refletiu sobre sistemas opressores como o capitalismo, o machismo e o racismo, que ela acredita roubarem a biografia das pessoas. “É um processo de esvaziamento da nossa interioridade, o que implica nossa capacidade de sentir e pensar. Eles precisam disso; é o método do poder”, revelou.
Para Marcia, são tempos de depressão cívica, algo benéfico aos opressores, pois todos ficam passivos, inertes e prostrados, sem almejar a mudança social. Sem possuir um aparelho televisor há 20 anos, a autora acredita que um dos meios de sair da letargia é lendo. “Ler é e sempre foi um ato revolucionário”.
Um bom tempo da palestra foi dedicado a falar sobre fascismo que, segundo ela, assim como outros termos, ganhou um ressignificado contemporâneo. Marcia acredita que não se trata mais de lembrar dos italianos do século passado e, sim, de “bufões que estão na política ganhando a simpatia da população”.

“Um fascista é um sujeito esvaziado de subjetividade que ama se identificar com um líder autoritário; um mito”, disse, provocando risadas da plateia pelo subliminar implicado. “O líder autoritário fala clichês e coisas simples; quem se identifica com ele é alguém que gosta de obedecer. Ele não tem curiosidade porque já tem tudo explicado desde sempre”.
O problema apontado não é a escolha por não seguir uma autoridade. “Podemos ter líderes, mas não achar que eles são a verdade de tudo”, defendeu ela, que acredita na expansão da capacidade cognitiva para melhor seletividade na política.
Na sequência a filósofa alcançou o feminismo, mostrando como o assunto tornou-se sua causa. “Fui me envolvendo com política porque percebi que eu era marcada como mulher. Percebi e não gostei”, revelou. Marcia acredita que as corporações midiáticas reforçam a misoginia que as mulheres enfrentam diariamente.
“É o discurso de ódio contra os indesejáveis”, definiu. Segundo a autora, os homens têm sim de entrar na discussão para lutar pelos direitos de igualdade entre os sexos. “A gente não pode achar que o feminismo é só coisa de mulher”, afirma. “Se o homem acabar com a desigualdade doméstica, pode ajudar com a política e por aí vai”.
Por fim, Marcia lançou uma proposta a quem quer fazer algo pela sociedade. “As pessoas estão querendo muita coisa, mas não têm coragem de ir. Temos que aproveitar as redes sociais para a luta sim, mas a luta é física, presente. Vocês sabem que não vai sobrar Brasil se não for a gente, né?”
Embora a palestra tenha terminado por volta das 22 horas, uma enorme fila foi formada para aqueles que queriam um autógrafo e uma foto com a autora. E, após ser aplaudida de pé, entusiasticamente, atendeu um a um com um grande sorriso no rosto. Para conhecer mais o trabalho da filósofa, acesse www.marciatiburi.com.br.

Feminismo em Comum
Editado pela Rosa dos Ventos em 2018, o livro é o primeiro sobre o assunto escrito pela filósofa Marcia Tiburi. Nele, ela explica o feminismo contemporâneo a partir da história do movimento e em como o termo tornou-se sinônimo de luta pela igualdade das demais minorias. O texto é um convite ao leitor a repensar estruturas sócios-culturais e também a levar o feminismo a sério, para além de modismos. O custo é de R$20.
* Este é o primeiro texto da série #ElasLivres a ser desenvolvida pelo blogue Linhas Livres com a intenção de falar sobre feminismo. Reportagens, resenhas e entrevistas estarão disponíveis em postagens futuras. Acompanhe!
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Bruna Camargo
Leitora voraz e pilateira insaciável, brinca que tem três empregos aos 22 anos – jornalista, pesquisadora e professora. Sonha em viver viajando e contando histórias por meio da escrita. Prestes a se formar, aprofunda os estudos em Jornalismo Literário e feminismo. (Leia mais aqui!) Foto Daniel Yamaguti.
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