VILA FIORI e a minha infância!
- Lilis | Linhas Livres
- 15 de mar. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Por Cristiane Carmo
Imagem Google Earth e fotos pessoais (arte San Paiva | Fotopoesia)

Passei minha infância, na década de 1980, na Vila Fiori, em Sorocaba (SP), onde morava com minha família. Mas observe, atualmente a cidade possui cerca de 700 mil habitantes, conta com mais de 1.700 empresas e possui vários pontos turísticos, como o zoológico – um dos maiores do Brasil -, e 21 parques municipais. Na minha infância não era exatamente assim. Mas a Vila Fiori era um lugar especial, tenho muitas recordações positivas do bairro e daquela época.
Morávamos na conhecida rua Paes de Linhares. Era uma casa de esquina, simples, mas cheia de amor. Na época não havia pavimentação, as ruas eram de terra. Lembro-me que todos os dias, à tarde, minha mãe, Fátima, me dava banho. Fazia duas chiquinhas em meu cabelo e me colocava sentada em uma cadeira de balanço que havia ganhado de presente e ficava na varanda. Eu amava aquele ritual, pois todas as pessoas que passavam por ali me cumprimentavam, exceto um rapaz, amigo da família, que tinha o apelido de “Chicória”.
Não sei o porquê, mas morria de medo dele. Quando ele passava, eu saia correndo para dentro de casa, gritando. “Mãe é o couve, o couve!” Minha mãe e minha avó riam muito pela confusão que eu fazia em chamar o Chicória de couve. Recordo-me que ao completar seis anos de idade, meus pais fizeram uma festa de aniversário e chamaram meus amiguinhos. Naquele dia ganhei um presente muito especial de meu avô José, um par de brincos e uma gargantilha de pérolas.
Fiquei muito feliz e minha mãe os colocou em mim. Porém, minha felicidade durou pouco, pois meu irmão Cristiano, que tem o apelido de Ninho, puxou o colar do meu pescoço e o arrebentou. Abri a boca a chorar. Meu papai, Valdemir, dizia “Calma, calma Cris, vamos consertar!” Então papai consertou e ficou tudo bem. Recordo-me também que minha tia Diva começou a trabalhar numa empresa chamada Kassuga, que fabricava câmeras fotográficas e álbuns de fotografia.

Depois de alguns meses ela conseguiu comprar sua primeira câmera fotográfica e foi uma alegria só, pois cada momento era um flash – como dizem por aí. Mamãe ainda tem várias fotos daqueles momentos. Lembro que um dia queria tirar foto com meu gato, chamado Arisquinho, e com meu cachorro, chamado Pita. Mas não deu certo, a foto até que saiu, eu com meu gato nos braços toda arranhada e chorando! Atualmente isso é motivo de riso entre nós.
Foram muitos os momentos de alegria, mas também tivemos momentos de tristeza registrados. Meu pai trabalhava como pintor de residências, mas nem sempre tinha trabalho. Houve dias em que só almoçávamos e quando chegava à noite, no horário do jantar, meu pai pegava seu violão. Sentávamos todos na sala e ele começava a tocar modas de viola de Renato Teixeira, Chitãozinho e Xororó, entre outros. Era gostoso ouvir aquelas canções.
Eu e meus irmãos gostávamos tanto que até dormíamos e nem percebíamos que não tínhamos nos alimentado. Crescemos ouvindo minha mãe dizer “Amanhã será outro dia”. Isso nos motivava a ter esperança. Passado alguns dias meu pai conseguiu um emprego em uma empresa e aquela dificuldade vivida acabou. Os domingos eram de festa, os tios Lazo e tia Neide, tio Berto e tia Lucia, e primos Val, Vania, Dir, Verinha Fabio, Kel, e também as primas Fabiane, Fran e Carine, filhas da irmã da minha tia Vica, vinham todos em nossa casa para almoçar, era muita diversão.

Após o almoço os adultos jogavam bingo e nós crianças íamos para a rua brincar de pular-corda, pega-pega, esconde-esconde. Brincadeiras simples, mas que nos faziam felizes. Recordo-me da vizinha, dona Maria, que morava lado da casa da minha vó. Ela tinha três filhos e eles também brincavam com a gente. Lembro também da saudosa dona Ondina, uma vizinha que morava de frente com nossa casa, ela era parteira. Era emocionante acompanhar sua rotina de correria e ensinamentos. Momentos que ficaram em minha memória.
Atualmente, ao passar por lá onde morei, vejo que muita coisa mudou. As ruas estão pavimentadas, sinalizadas, têm ciclovias, áreas comerciais, feira livre, igrejas, supermercados, bancos, Pronto Atendimento, transporte coletivo, fácil acesso ao centro. É um bairro excelente para morar, porém como todo lugar, sempre precisa de melhorias. Falta lazer para as crianças, o parque mais próximo é o Parque das Águas, o Mercado Distrital, que carece de investimentos em infraestrutura, poderia oferecer muito mais recursos como lanchonetes.
Sempre que posso vou visitar os amigos que cultivei. Alguns ainda moram por lá, outros mudaram-se, outros já se foram desta vida, mas deixaram pérolas, seus ensinamentos, experiências e conselhos. Passei os melhores momentos da minha vida naquele bairro, por isso digo que precisamos aproveitar o máximo de momentos que a vida nos proporciona. Acredito que recordar é viver.
Vila Fiori
A história da Vila Fiori está inteiramente relacionada à de Sorocaba. Localizada na Zona Norte da cidade, ele cresceu a partir da expansão do Centro e do Jardim Abaeté, onde havia a antiga olaria que deu origem à geografia da região. Sorocaba foi elevada a cidade em 1842 e nas décadas seguintes passou por grandes mudanças administrativas. Uma das ruas principais do bairro é a Paes de Linhares, que tem em seu início, próximo ao Rio Sorocaba, o antigo Matadouro – um dos quatro que a cidade já teve -, que como o nome diz, era onde matavam-se animais para serem comercializados (açougue). O prédio construído no estilo inglês, erguido em 1928 e que foi tombado como patrimônio histórico em 1966, está abandonado numa área de 25 mil metros quadrados, mas serviu durante décadas para alavancar o crescimento local, principalmente a partir da segunda metade do século passado. Informações: www.sorocaba.sp.gov.br.
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Cristiane Carmo
Tem 42 anos e é casada com um cara incrível, seu maior apoiador de sonhos. É artesã e contadora de histórias no grupo Semeando e Encantando. Também é tradutora voluntária da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para a comunidade surda, sua paixão. Ama a família, sua vida. Sonhadora, adora ler e escrever e acredita em um mundo melhor. (Leia mais aqui!) Foto San Paiva | Fotopoesia
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