MEU LAR é onde você estiver!
- Lilis | Linhas Livres
- 22 de fev. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2018
Por Amanda Kafejo
Imagens (na ordem) Mariáh Joaquim; Arquivo Pessoal (Arte San Paiva | Fotopoesia)

Sabe aqueles lugares que você vai e gosta muito? Então, existem dois tipos: os que são muito bons e você quer contar para todo mundo, quer que todos saibam, visitem e experimentem a mesma sensação que você sentiu; e existem aqueles que são tão bons que você não quer dividir com absolutamente ninguém, quer guardar para si e mostra até indiferença de tão egoistamente feliz foi ou é ali. Narro aqui, uma história do segundo caso.
Há mais ou menos um ano, minha namorada, Amanda, e eu passávamos todas as minhas folgas do trabalho na casa dela, no bairro Vitória Régia, em Sorocaba (SP). Uma casinha de cozinha e quarto, portanto, ficávamos a maior parte do tempo dentro do quarto. Ali, ela morava apenas com suas duas gatas, Puma e, a saudosa, Manchinha. Passava praticamente o dia todo na frieza, no isolamento e escuridão deste cômodo que possuía uma enorme cama, que tomava quase todo o espaço.
Tudo o que lhe era importante flutuava pelas paredes, como o violão quase nunca tocado, os livros embalados em papel filme - títulos como Socrátes, Desvendando Símbolos e Lolita. Quadros de artistas importantíssimos, pequenos e sem fama, também conhecidos por minha filha Mariáh e o sobrinho da Amanda, o Murilo. Mas era no chão que ela se revelava, deixando exposto a quem quisesse ver (ou não) a paixão pelos gatos, desde arranhadores para unhas, bolinhas e ratinhos de borracha até a caminha das felinas.
Contudo, se me prolongar na descrição facilmente cairei nas armadilhas do ato falho (ou nem tanto) e acabarei despertando aquilo que não desejo, a vontade do leitor visitar este lugar. Portanto, me comprometo aqui em fazer um esforço de me ater apenas à descrição e não instigar em nenhum momento a vontade, de quem quer que esteja lendo, conhecer este lugar, que aqui descrevo. Pois bem, apesar dos sonhos flutuantes não vividos, nossa vida acontecia mesmo era na cama, aquele retângulo que nem sempre era confortável, mas sempre me trazia uma noite bem dormida.

Nela ouvíamos as músicas mais deliciosas, acompanhadas geralmente de algo para comer. Discutíamos assuntos diversos, desde conceitos formulados por Platão, o filósofo, até o porquê de The Vampire Diaries ser tão melhor que The Walking Dead (séries estadunidenses). Debates embalados sempre por um vinho barato e de duvidosa procedência.
Meus melhores momentos estavam ali. Naqueles momentos aprofundamos nossa relação, nos envolvemos tão intensamente que paramos de pensar e começamos a só sentir, criando uma cumplicidade sem igual, a ponto de não precisarmos mais falar. Rolaram algumas discussões banais também, acertos de como resolveríamos determinadas problemáticas do dia-a-dia. Mas minha filha Mariáh gostava muito quando ia passar uma noite conosco lá, pois podia bagunçar bastante e atormentar a rotina cheia de hábitos das gatas.
Faz uns seis meses já que moramos juntas em outro lugar. Aqui, atualmente, saturamos na superficialidade do dia-a-dia, nas relações com os que nos cercam, filhos e tantos outros problemas. Mas o que ficou e se consolida com esta rotina é a necessidade de nos manter satisfeitas e profundamente envolvidas, ainda que estejamos em outro quarto, em uma casa maior ou cheias de filhos; porque o importante não é a casa e sim o lar, e meu lar é onde ela estiver.
Vitória Régia
O conhecido bairro da Zona Norte de Sorocaba está localizado próximo à Zona Industrial, à beira do Rio Sorocaba, interligada pelo Anel Viário a partir da avenida General Motors. É vizinho do Conjunto Habitacional Hebert de Souza e Jardim Bonsucesso. Conta com cerca de 30 ruas e comércio independente, além de escolas e do Parque Amadeu Franciulli. Informações: www.sorocaba.sp.gov.br.
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Amanda Kafejo
Estudante de psicologia e interessada por tudo que tenha relação com o comportamento humano, desde astrologia até testes psicométricos. Submete sua adorável filha, Mariáh, e sua namorada, Amanda, às suas descobertas teóricas. É feminista declarada, apaixonada por política, gatos, vinho barato, trabalho, comida e escrever sobre todos os itens acima. (Leia mais aqui!) Foto San Paiva | Fotopoesia
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